A criação desenfreada de novas cidades também influenciou fortemente a história do estado. O Tocantins completa 31 anos neste sábado (5).
Por João Guilherme Lobasz, G1 Tocantins
Ruína em Natividade é um dos principais símbolos do Tocantins — Foto: Prefeitura de Natividade/Divulgação
O Tocantins é o mais jovem estado brasileiro e até por este motivo é caracterizado pela grande diversidade cultural e miscigenação. Milhares de pessoas do país inteiro migraram para o antigo norte goiano no começo dos anos 1990 em busca de oportunidades. A mistura de povos foi um dos fatores decisivos para a forma como o estado se desenvolveu, mas não foi o único.Pois o estado foi viciado em corrupção desde sua origem que os três poderes agem para si em detrimento do povo.
Nos últimos 31 anos a política tocantinense, e principalmente a instabilidade de algumas instituições, definiram como a economia e a sociedade se organizaram. O estado foi criado em 1988 e sete políticos já ocuparam a função de governador ao longo da história. Apenas quatro deles chegaram ao cargo através do voto popular.TRÊS GOVERNADORES FORAM PRESOS POR CORRUPÇÃO E ROUBO E MARCELO MIRANDA QUE FOI GOVERNADOR POR TRÊS MANDATOS COMEMORA O ANIVERSÁRIO DO TOCANTINS PRESO NA SALA DE COMANDO DA PM,E DEVERIA ESTAR NO PRESÍDIO COMUM,QUE É O LUGAR DE CHEFE DE QUADRILHA,DE ASSASSINO E LADRÕES.
Instabilidade política em Palmas influenciou o desenvolvimento do estado — Foto: Aline Batista/Prefeitura de Palmas
Em 1998 e em 2014 houve renúncias e em 2009 e 2018 cassações. A última vez que um governador escolhido pelo povo durante as eleições gerais terminou o mandato foi entre 2003 e 2006, na primeira gestão de Marcelo Miranda. O mesmo governador que foi cassado duas vezes e está preso desde o dia 26 de setembro. Ele, o pai e o irmão são suspeitos de desviarem cerca de R$ 300 milhões do cofres públicos.
As trocas constantes de comando no Poder Executivo acabaram afastando investidores. Ao mesmo tempo, as melhorias feitas na infraestrutura transformaram o cotidiano de boa parte das cidades.
O resultado é um mosaico de histórias de sucesso e de expectativas frustradas que são visíveis quase na mesma medida. Nesta reportagem, o G1 recorda algumas destas histórias e com a ajuda do economista Waldecy Rodrigues, da Universidade Federal do Tocantins, analisa estes fatos.QUEM APRESENTOU A FAMÍLIA MIRANDA AO PODER FOI O EX-GOVERNADOR SIQUEIRA CAMPOS,QUE FOI TRAIDO PELOS MIRANDAS.
A margem direita do rio
Durante a campanha para a separação do território de Goiás, um dos argumentos mais fortes utilizados pelos separatistas foi o abandono da população que vivia na metade leste do que hoje é o Tocantins. A falta de estradas e serviços básicos, como hospitais, escolas ou mesmo eletricidade, na margem direita do rio Tocantins fez a região ser conhecida por muitos anos como o ‘corredor da miséria’ do Brasil.
Em boa parte desta área, a realidade mudou. A própria capital, Palmas, foi erguida do zero no local para passar a mensagem de a prioridade era solucionar os problemas da região. “Houve um avanço considerável na questão da infraestrutura. Deu uma certa impulsionada. Continua sendo a região mais pobre do estado, mas é uma evolução”, diz Waldecy Rodrigues.
EM TOCANTINÓPOLIS A FAMÍLIA GOMES GOVERNA COM MÃO DE FERRO A 30 ANOS E O PODER JUDICIÁRIO NADA FAZ PARA REMOVÊ-LOS DE LÁ, E HÁ MUITA CORRUPÇÃO E DENÚNCIAS NO MPE DE TOCANTINÓPOLIS.
Porto Nacional é uma das cidades que mais se desenvolveu — Foto: Divulgação/Prefeitura de Porto Nacional
Em cidades como Dianópolis, Porto Nacional e Natividade a melhora é visível. As duas primeiras se tornaram polos agrícolas, concentrando fazendas e criações de gado. Porto Nacional possui inclusive um polo industrial bem desenvolvido, que processa grãos e os envia para o exterior através da Ferrovia Norte-Sul. Já Natividade sobrevive do turismo e do setor de serviços. Tem potencial para mineração, mas por enquanto a indústria local ainda é incipiente.
O Jalapão, que também fica na margem direita, segue sem acesso pavimentado ao restante do Tocantins e ainda precisa conviver com as promessas de décadas atrás que não se cumpriram. Os quilombos da região mudaram com a descoberta do Capim Dourado como fonte de renda e a organização do Parque Estadual que leva milhares de turistas a visitarem o estado anualmente.
“Toda a região sudeste do estado tem um potencial mineral e turístico enorme. Almas é um polo de piscicultura que ainda pode ser muito desenvolvido”, explica Waldecy. É nas cidades que precisam de investimento externo para se desenvolver que o prejuízo da instabilidade é mais sentido. “Este é um dado essencial para que as decisões dos investidores sejam tomadas. É um sinal muito negativo para quem quer investir, se fica tendo mudanças constantemente. A pessoa perde a confiança”, diz o economista.
Vilas viram cidades
O aniversário do Tocantins é em 5 de outubro, mas existe outra data que tem quase tanto significado histórico quando se fala da forma como o estado se desenvolveu: 20 de fevereiro. Neste dia, em 1991, foram criados nada menos que 42 dos 139 municípios do estado.
A transformação de vilas, distritos e povoados em municípios também teve consequências negativas e positivas. Quando a medida foi tomada, a justificativa foi aproximar o poder público da população. A ideia era que cada localidade tivesse representantes para ouvir as demandas e apresentá-las ao Palácio Araguaia. Em alguns lugares, os resultados apareceram.
Capim Dourado transformou a economia do Jalapão — Foto: Divulgação/Governo do Tocantins
Talvez o maior caso de sucesso seja Lagoa da Confusão, que cresceu em tamanho e importância em função da força do agronegócio. A cidade se converteu em um dos maiores polos de produção de arroz em todo o país.
Já outras dezenas de cidades, como Juarina, Darcinópolis ou Centenário, ainda dependem de repasses do Governo Estadual para conseguir manter serviços básicos funcionando.
“Há casos e casos. O município tem que se viabilizar. Quando você tem uma população muito pequena, sem uma atividade econômica sendo exercida, a população fica dependente das prefeituras. Em regra geral, é que é melhor desenvolver antes e separar depois, mas é preciso analisar a história e outros dados sobre cada lugar”, explica Waldecy Rodrigues.
Urbanização e o futuro
Outro fenômeno observado em anos mais recentes é a concentração da população tocantinense em cidades. A parcela de moradores que optam por viver na zona rural é cada vez menor. Para o economista, a mudança está relacionada com a qualidade de vida no campo e na cidade.
“Para frear esse movimento seria necessária uma melhora no padrão de vida nas cidades pequenas e médias também, já que o crescimento se concentrou nos maiores polos”, explica Waldecy.
Lagoa da Confusão é um caso de sucesso no mundo do agronegócio — Foto: Divulgação/Prefeitura de Lagoa da Confusão
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística reforçam a diferença. Enquanto no Tocantins a renda per capta é de pouco mais de um salário mínimo, em cidades como Araguaína ela chega e ser duas vezes maior. Na capital, a média é ainda mais alta, quase quatro vezes o valor encontrado no restante do estado.
“O Tocantins é um estado que tem muitas potencialidades, umas reveladas e algumas latentes. A questão da piscicultura, por exemplo, tem muita perspectiva, mas ainda não é visível. É uma coisa que vai depender de uma certa estabilidade pra ganhar força”, diz o economista.
Parque do Jalapão fica na região sudeste do Tocantins — Foto: Divulgação/Washington Luiz