A ‘nova política’ bolsonarista do Congresso ainda não disse a que veio

A ‘nova política’ bolsonarista do Congresso ainda não disse a que veio

O placar da onda de renovação conservadora, até agora, é de zero a zero. Falta fazer a boa política

Passados mais de cem dias desde que Jair Bolsonaro assumiu a presidência, os deputados e senadores eleitos sob a égide da ‘nova política’ ainda não disseram a que veio. Até agora, o Congresso é um deserto de ideias, e terreno fértil para uma desarticulação nunca antes vista.

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 O arrastão conservador enterrou velhos caciques e fez emergir um cardume de novatos. Dos 512 deputados eleitos nesta 56ª Legislatura, 244 são estreantes na casa. O nanico e esquecível PSL saltou de um para 56 deputados, empatando com o PT como maior bancada.

Mas essa onda não tem sido suficiente para garantir apoio à Reforma da Previdência. Um grande problema, dizem insiders do Congresso, é que os deputados não querem se empenhar por uma reforma que, de tão impopular, nem o próprio Bolsonaro se presta a defender.

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Imaginava-se a explosão pesselista daria vida mais fácil ao governo dentro da Câmara. Mas o partido está perdido sob liderança do Delegado Waldir — aquele acusado de andar armado no plenário — e Major Vitor Hugo, um desconhecido militar de Goiânia. A quizumba é tanta próprio Vitor Hugo admitiu que a base do partido ‘simplesmente não existe’.

Enquanto isso, o governo segue negociando cargos e emendas. Onyx Lorenzoni prometeu verbas milionárias aos deputados que votarem pela Reforma. Afinal, os neófitos precisam mostrar serviço — e logo — em suas bases eleitorais.

Se o apoio ao governo patina, a atividade legislativa… também. O PSL e aliados protagonizam comissões e mesas diretivas, mas não tiveram destaque em projetos. Entre as proposições dos novatos, abundam pedidos de CPI e aberrações como a proibição de anticoncepcionais, a criminalização de jogos violentos e a criação de uma ‘secretaria desesquerdizadora’.

Também sobram pedidos de sessões solenes em homenagem a figuras como Sergio Moro e a eventos como o Dia do Combate à Ideologia de Gênero e a Constituição da Monarquia.

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No Senado, o clamor por mais protagonismo

No Senado, só oito dos trinta e três senadores que tentaram se reeleger foram bem sucedidos. Os novatos na política são nove. Uma coalização que uniu oposição e governistas abriu caminho para a queda de Renan Calheiros (MDB), presidente da casa por três mandatos. Mas ainda falta pulso.

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“A eleição do Davi veio sob o signo da renovação, mas eu ainda espero medidas nesse sentido. Ainda espero um protagonismo do Congresso Nacional, nessa circunstância de ausência de poder, nosso papel é dar segurança e tranquilidade à nação”, avaliou o senador Randolfe Rodrigues a CartaCapital. 

Longe da Praça dos Três Poderes, as suspeitas de corrupção se avolumam. Destaque ao laranjal do PSL. E uma senadora conhecida conhecida como ‘Moro de saias’ deve deixar a casa depois de ter o mandato cassado pela justiça. E Flávio Bolsonaro ainda está a perigo de eventuais novidades no caso Queiroz.

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De novo mesmo, resta apenas o uso massivo das redes sociais. O pesquisador Marcio Moretto, co-coordenador Monitor Político para o Debate Digital, diz que ainda é cedo para dizer se essa mudança é boa ou não para a democracia. “Esse modelo enfraquece as instituições, que perdem a independência da opinião pública. Por outro lado, a população tem assumido um papel diferente nesse jogo político. É uma questão delicada”, disse em entrevista exclusiva a CartaCapital, em março.

É importante esclarecer que nem toda a ‘nova política’ é farinha do mesmo saco. Esse movimento também deu ao parlamento o maior número de mulheres em trinta anos, e elegeu nomes que representam um desejo interessante de renovação, como a pedetista Tabata Amaral e Felipe Rigoni (PSB), o primeiro deficiente visual a ocupar uma cadeira na Câmara.

O placar da ‘nova política’, até agora, é de zero a zero. Falta fazer a boa política.

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