Bolsonaro aumenta pressão sobre Bebianno por caso dos laranjas do PSL

GOVERNO BOLSONARO

Bolsonaro aumenta pressão sobre Bebianno por caso dos laranjas do PSL

Presidente ordena cancelamento de agenda de ministro, e aliados esperam que ele deixe o cargo

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Igor Gielow
SÃO PAULO

Jair Bolsonaro responsabilizou o ministro Gustavo Bebianno (Secretaria-Geral da Presidência) pela escalada da crise envolvendo a revelação de candidaturas laranjas bancadas pelo partido de ambos, o PSL.

Bolsonaro e Gustavo Bebianno durante entrevista coletiva realizada durante a campanha
Bolsonaro e Gustavo Bebianno durante entrevista coletiva realizada durante a campanha – Mauro Pimentel – 11.out.2019/AFP

O presidente quer uma solução rápida para o caso, discutiu com o ministro e o fez cancelar agendas, o que aumentou a pressão entre aliados para que Bebianno peça para sair do governo.

O cerco sobre Bebianno surgiu com a série de reportagens da Folha mostrando que o partido do presidente, que era dirigido pelo hoje ministro durante a campanha eleitoral, destinou verbas milionárias do Fundo Partidário para candidatas com votações insignificantes a deputado federal pelo país.

Além disso, elas justificaram os gastos com empresas suspeitas de serem fantasmas ou ligadas a dirigentes do PSL, como o hoje ministro do Turismo Marcelo Álvaro Antônio.

Internado em São Paulo para recuperar-se da terceira cirurgia decorrente do atentado que sofreu em setembro, Bolsonaro mostrou especial contrariedade com a reportagem do jornal do domingo (10), em que uma candidata com 274 votos amealhou o terceiro maior naco de verba pública destinada aos postulantes do PSL no Brasil. A Polícia Federal investiga o caso.

Demonstrando irritação a assessores, o presidente discutiu o caso com Bebianno. O ministro apontou, segundo a Folha apurou, que sua responsabilidade na campanha era apenas sobre a candidatura de Bolsonaro e de alguns candidatos pontuais pelo país.

A responsabilidade pelos palanques estaduais seria então do presidente licenciado da sigla, o deputado federal Luciano Bivar (PE), que é o dono do PSL e patrono da candidata dos 274 votos. A aliados, o ministro também nega mal-estar com o chefe e acredita que tudo se resolverá quando conversarem pessoalmente.

Dois generais que trabalham sob a alçada do ministro, mas são vistos pela ala militar do governo como garantidores do funcionamento da secretaria, foram informados da situação. São eles Floriano Peixoto e Maynard Santa Rosa, este visto por observadores do Planalto como um candidato natural a substituir Bebianno caso o ministro peça demissão, algo que interlocutores próximos descartam.

Um militar que os conhece bem aposta, contudo, que eles trabalharão para tentar amainar a crise e evitar uma baixa expressiva no governo. Conhecido pelo estilo arestoso, Bebianno tem se destacado por notável tranquilidade no cargo, a que aliados creditam ao convívio com os generais —e seus conselhos.

Nesta terça (12), a notícia publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo de que Bebianno levaria dois ministros para discutir obras na região amazônica também desagradou o presidente, que determinou o cancelamento da viagem que ocorreria nesta quarta (13).

Oficialmente, Bebianno informou por meio de sua assessoria que a ida ao Pará foi suspensa porque Bolsonaro requisitou que todos os ministros com assento no Planalto estejam em Brasília no dia de sua volta à capital —o presidente deve deixar São Paulo, onde está internado desde o dia 27 de janeiro, na tarde desta quarta.

A tensão entre presidente e ministro levou também ao cancelamento, por ordem de Bolsonaro, de agendas de Bebianno ao longo do dia —em especial uma reunião marcada com o vice-presidente de Relações Institucionais da Rede Globo, emissora que é vista pelo núcleo familiar do mandatário como hostil ao governo. Além do encontro com Paulo Tonet Camargo, foi cancelado também conversa com o presidente da Federação Brasileira de Bancos, Murilo Portugal.

Bebianno é uma figura polêmica. Advogado de Bolsonaro, ele aproximou-se bastante do presidente durante sua internação após o atentado, quando passou a controlar toda sua agenda. Se não é um desafeto, tem relação conflituosa com os filhos do presidente, especialmente o deputado federal Eduardo (PSL-SP) e o vereador carioca Carlos (PSC).

Durante a transição, família e dirigente se estranharam na formação da área de comunicação do governo, que acabou ficando com um indicado por Eduardo, seu ex-assessor Floriano Barbosa. Ele foi colocado na chefia da Secretaria de Comunicação da Presidência, que foi retirada do guarda-chuva de Bebianno e transferida para o do ministro Carlos Alberto dos Santos Cruz (Secretaria de Governo).

Colaborou Gustavo Uribe, de Brasília

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