Com Copa do Mundo, especialistas alertam para doenças vindas da Rússia
Fabrizio Glória
- Antes de viajar, é importante checar se todas as vacinas estão em dia
A Copa do Mundo da Rússia atraiu mais de 65 mil turistas brasileiros ao país, misturados a outros torcedores de todos os cantos. Com a grande movimentação de pessoas nas cidades que sediam o evento, especialistas em saúde no Brasil alertam para o risco da proliferação de doenças infecciosas.
Segundo o Itamaraty, apesar de não haver registros de doenças endêmicas na Rússia, casos de difteria, hepatite A, febre tifoide e cólera podem ser comuns. Além disso, desde o começo do ano, a Europa passa por surtos de sarampo, doença altamente contagiosa.
Outro alerta fica para a AIDS, que permanece como um grande problema da saúde pública do país. Cerca de 1,1% da população da Rússia pode estar contaminada com o vírus HIV, segundo relatório do Programa Conjunto das Nações Unidas para o HIV e a AIDS (UNAIDS).
Abaixo, veja dicas de especialistas e do Ministério da Saúde sobre prevenção, transmissão e tratamento.
Sarampo
Em meio a surtos em território europeu, foram identificados na Rússia 1.149 casos de sarampo entre janeiro a abril deste ano. Segundo o Ministério da Saúde, a única forma de prevenção indicada é tomar vacina tríplice viral, caso a imunização já não tenha sido feita. Em casos de viagem internacional, especialmente, se está de visita em países de alto risco, recomenda-se a atualização da vacina. Entretanto, gestantes e pessoas com o sistema imunológico comprometido, como infectados pelo vírus HIV e pacientes em quimioterapia, não podem ser vacinados.
Lavar as mãos é extremamente importante para evitar doenças transmitidas por vias respiratórias. Cobrir nariz e boca ao espirrar ou tossir, não compartilhar copos, talheres e alimentos e evitar passar as mãos na boca ou nos olhos também pode ajudar na prevenção, explica Marta Heloísa Lopes, infectologista e professora do Departamento de Moléstias Infecciosas e Parasitárias de Universidade de São Paulo.
Os principais sintomas são febre alta, conjuntivite com olho lacrimejando, que deixa o rosto com aspecto de choro, manchas vermelhas pelo corpo e pele áspera. O ciclo da doença dura cerca de uma semana ou dez dias e o tratamento consiste em repouso, hidratação e antitérmico para controlar a febre, além de isolamento. A doença pode resultar em complicações como diarreia, pneumonia e alterações de coagulação do sangue.
“Em caso de suspeita de sarampo, os pacientes devem procurar imediatamente um serviço de saúde e evitar lugares públicos, onde circulam muitas pessoas, alerta a especialista. Ao retornar de países com ocorrência de endemias, quaisquer sintomas devem ser imediatamente comunicados às autoridades de saúde brasileiras”, explica Lopes.
Hepatite A
A hepatite A é transmitida durante relação sexual desprotegida e por meio do consumo de água e alimentos contaminados. No Brasil, a vacina contra a doença é oferecida gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde para crianças entre 15 meses e 5 anos de idade.
Em geral, a doença é assintomática. Porém, os sintomas mais frequentes são cansaço, tontura, enjoo, vômitos, febre, dor abdominal, pele e olhos amarelados, urina escura e fezes claras.
O diagnóstico da doença é realizado por exame de sangue. Após a confirmação, o profissional de saúde indicará o tratamento mais adequado, de acordo com a saúde do paciente, segundo o Ministério da saúde.
A hepatite A é totalmente curável quando o portador segue corretamente todas as recomendações médicas. Na maioria dos casos, tem caráter benigno, mas pode causar insuficiência hepática aguda grave e levar à morte em menos de 1% dos casos.
Hepatite B
A hepatite B pode ser contraída durante sexual, por meio do contato com agulhas contaminadas e hemoderivados. As três doses da vacina estão disponíveis no SUS para todas as pessoas.
A maioria dos casos da doença não apresenta sintomas. Entretanto, os mais frequentes são cansaço, tontura, enjoo e/ou vômitos, febre, dor abdominal, pele e olhos amarelados, urina escura e fezes claras.
“É importante que o turista esteja sempre protegido nas relações sexuais e evite qualquer tipo de contato com objetos cortantes”, afirma o coordenador do Comitê de Medicina dos Viajantes da Sociedade Brasileira de Infectologia, Jessé Alves.
Febre tifoide
A febre tifoide é uma doença bacteriana aguda, adquirida por meio do consumo de água e alimentos contaminados. Por isso, o viajante deve estar sempre atento e não beber água da torneira, além de sempre se preocupar com a procedência dos alimentos que consome quanto está fora do país, explica Jessé Alves.
Os sintomas são febre alta, dores de cabeça, mal-estar geral, falta de apetite, retardamento do ritmo cardíaco, aumento do volume do baço, manchas rosadas no tronco, prisão de ventre ou diarreia e tosse seca.
Difteria
A difteria é uma doença transmissível aguda, que frequentemente se aloja nas amídalas, faringe, laringe, nariz e, ocasionalmente, em outras mucosas e na pele. A vacina tríplice bacteriana clássica é indicada para crianças com até sete anos de idade. Após essa idade é utilizada a tríplice bacteriana acelular do tipo adulto (dTpa).
“Há também a vacina pentavalente, indicada para imunização ativa de crianças a partir de dois meses de idade contra difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e doenças causadas por Haemophilus influenzae tipo b”, explica a infectologista Marta Heloísa Lopes.
Apesar dos altos níveis de cobertura vacinal contra a difteria, um surto afetou partes da Rússia nos anos noventa e a doença ainda não foi totalmente erradicada no país.
Aids
A Aids é um dos maiores problemas da saúde pública ao redor do mundo. De acordo com Ministério da Saúde da Federação Russa, o país passa pela maior epidemia de HIV na Europa Oriental e na Ásia Central, com mais de 98.000 novas infecções registradas em 2015 e uma taxa que cresce entre 10 e 15% anualmente.
Um relatório do Programa Conjunto das Nações Unidas para o HIV e a AIDS (UNAIDS), revela que 1,1% da população brasileira pode estar contaminada com o vírus HIV. O Ministério da Saúde reafirma aos cidadãos brasileiros a importância da adoção de medidas de prevenção contra doenças sexualmente transmissíveis.
“Sexo sempre deve ser feito com segurança, tanto aqui no país quando durante as viagens. A proteção com o uso de preservativos é a forma de se prevenir contra a AIDS e qualquer outra doença sexualmente transmissível”, diz a infectologista e professora do Departamento de Moléstias Infecciosas e Parasitárias de Universidade de São Paulo.
Cólera
A cólera é uma doença infecciosa intestinal aguda, transmitida por contaminação fecal-oral direta ou pela ingestão de água ou alimentos contaminados.
Em geral, não há sintomas ou apenas uma diarreia leve. No entanto, o paciente pode também se apresentar de forma grave, com diarreia aquosa, com ou sem vômitos, dor abdominal e cãibras. Quando não tratada prontamente, pode ocorrer desidratação intensa, com graves complicações que podem levar à morte.