Covid-19: Curitiba resiste ao lockdown e vê hospitais privados lotados no pior mês da pandemia

Covid-19: Curitiba resiste ao lockdown e vê hospitais privados lotados no pior mês da pandemia

  • Isadora Rupp – @isaraquelrupp
  • Especial para a BBC News Brasil de Curitiba
Homem de jaleco joga líquido com mangueira em corrimão de estação de ônibus
Legenda da foto,Capital paranaense viveu em novembro o seu pior mês na gestão da pandemia

Depois de dois meses de relativa tranquilidade, queda de casos e de óbitos, Curitiba viveu em novembro o seu pior mês da pandemia de covid-19. Dados da Secretaria Estadual de Saúde (Sesa) mostram que os casos ativos mais do que triplicaram entre 1 e 30 de novembro, saltando de 3.762 casos para 13.829.

Na capital paranaense, o número de novas pessoas contaminadas com covid-19, que nos meses de outubro se mantinha em uma média de 300 por dia, foi de 1.302 na terça-feira (1/12), com 13 mortes pela doença. A taxa de transmissão está em 1,22, ou seja: 100 pessoas com a doença transmitem para outras 122, o que indica uma aceleração da pandemia.

Agora Curitiba, como todas as demais cidades do Paraná, terá um toque de recolher. O Governo do Paraná decretou toque de recolher em todo o Estado, entre 23h e 5h, a partir desta quarta-feira (2/12). Fica impedida também a venda e consumo de bebida alcóolica nas vias públicas.

Ainda assim, a capital paranaense seguirá sem lockdown.

Os boatos sobre um possível lockdown após as eleições (que reelegeram o atual prefeito, Rafael Greca, do DEM) cresciam e foram tratados como fake news (notícia falsa) pela administração municipal. No dia 27 de novembro, a secretária municipal da Saúde, em coletiva de imprensa pelo Zoom, anunciou a volta da bandeira laranja, de alerta médio para a doença, em vez da bandeira amarela, mais amena.

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Restrições tímidas

A mudança nas restrições, no entanto, foi tímida: somente bares e casas noturnas precisaram fechar. A maioria, no entanto, opera também com alvará de restaurante e lanchonete, o que mantém os estabelecimentos, já bastante castigados economicamente pelos meses anteriores, abertos, mas sob fiscalização da polícia, que vem fazendo rondas pelos espaços.

Estão suspensos ainda eventos em casas de festas, de espaços para recepção, serviços de bufê, eventos em massa e confraternizações corporativas.

O horário do comércio de rua, shoppings, academias e igrejas se manteve. Restaurantes precisam fechar às 22 horas, mas não têm restrição na capacidade de clientes.

A insegurança sobre a situação dos bares levou Jana Santos, criadora do movimento “Fechados pela Vida” a voltar a operar somente por delivery. Junto com outros pequenos empresários, ela encabeçou no início da pandemia uma estratégia pelo fechamento dos lugares, de maneira espontânea, para ajudar com a crise sanitária.

Fechou as portas para atendimento no seu bar, o Cosmos, de 15 de março até 17 de outubro, quando decidiu reabrir com capacidade máxima de 15 clientes.

“Pode ir mil pessoas no shopping, e eu que recebia 10 pessoas vou fechar. No começo da pandemia, chamamos a atenção para a demora na ajuda financeira. No meu caso pessoal, consegui um empréstimo pelo governo estadual, que demorou 90 dias para chegar. Agora, não temos mais nenhuma esperança de medida econômica” fala Jana.

Jana, de máscara, segura placa dizendo: "Fechados pela vida"
Legenda da foto,Jana Santos é criadora do movimento ‘Fechados pela Vida’

Hospitais lotados

Um dos sinais que aponta para uma situação crítica em Curitiba foi o esgotamento do sistema de saúde privado: desde o dia 20 de novembro, hospitais como Marcelino Champagnat, Sugisawa e Hospital Nossa Senhora das Graças (HNSG) publicaram comunicados em suas redes sociais alertando que 100% dos leitos de UTI estavam esgotados.

“É estatístico: pelo menos 10% dos pacientes com covid internam e, entre esses, 10% em média vão para a UTI. Acima de 1 mil casos todos os dias, o sistema satura” diz o diretor do HNSG e presidente da Federação das Santas Casas de Misericórdia e Hospitais Beneficentes do Estado do Paraná (Femipa), Flaviano Ventorim.

No SUS, a taxa de ocupação de UTI por covid é, segundo a Sesa, de 92% na região leste do Paraná, que engloba Curitiba, região metropolitana e Paranaguá. Em todo o Estado, o índice é de 83%. Em coletiva de imprensa no dia 27 de novembro, a secretária municipal da Saúde, Márcia Huçulak, afirmou que pacientes da rede privada chegaram a ser transferidos para o SUS por conta de problemas na capacidade de atendimento.

Segundo Ventorim, o HNSG deu o alerta à população para evitar que pacientes graves (como infarto e AVC, por exemplo), não procurassem a instituição pela falta de estrutura física.

“Nesses casos o tempo é primordial para a sobrevivência” frisa.

O hospital conta com 58 leitos de UTI no total, que se divide entre pacientes cardíacos (10), neuropediatra (20), geral (20) e 8 para covid-19.

“Dentro da nossa dinâmica, não posso colocar um paciente da UTI Covid na UTI cardíaca, porque nosso modelo é de UTI aberta” explica. Para efeitos comparativos, o Hospital das Clínicas (HC), que é público, tem 61 leitos apenas para covid-19 (58 deles hoje estão ocupados).

Na terça (1/12), fontes consultadas pela BBC News Brasil informaram que, em ofício, a prefeitura de Curitiba solicitou ao HC que médicos de especialidades como ortopedia devem cancelar atendimentos eletivos; os profissionais serão destinados para a ala de covid-19. Duas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) nos bairros Boqueirão e Fazendinha, regiões populosas da capital, foram fechadas para outros atendimentos de saúde, destinadas apenas a pacientes com covid.

Para o diretor do Centro de Epidemiologia da Secretaria Municipal de Saúde, Alcides Oliveira, as vagas no sistema privado tendem a se normalizar.

“Com a diminuição dos casos nos meses anteriores, os hospitais retomaram cirurgias eletivas, que muitas vezes necessitam de UTI. Com menos procedimentos as vagas voltam a abrir. É um momento de transição para a retomada dos leitos”, acredita.

Pedestres com máscara caminham em estação-tubo, com ônibus atrás, à luz do dia
Legenda da foto,Estações-tubo em Curitiba agora têm álcool gel

Feriados em outubro e novembro, campanha eleitoral e o aumento da circulação de pessoas na cidade, que, para eles, “perderam o medo” da doença, são alguns motivos que a Epidemiologia atribui para esse repique brusco de casos.

Tanto Oliveira quanto Ventorim alertam para as festividades de Natal e Ano-Novo que se aproximam: as pessoas devem evitar ao máximo viagens e festividades que envolvam pessoas fora do convívio familiar diário.

A ponta do atendimento, os postos de saúde em Curitiba também vêm registrando um dia a dia mais puxado do que há alguns meses: médico e coordenador do Grupo Técnico Covid-19 da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, Rogerio Luz Coelho Neto, que atende da Unidade de Saúde Osternak, relata que na segunda-feira passada (23 de novembro) foram realizados quase 50 exames de PCR na unidade em um único dia, o que é número “absurdo”, de acordo com ele, para a unidade.

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