Em vídeo, governador do TO comenta convocação para CPI da Covid e diz que nunca enfrentou falta de materiais ou oxigênio

Por Patrício Reis,

 


Governador Mauro Carlesse fala sobre a convocação para prestar depoimento na CPI da Covid
https://youtu.be/zyNUcEu46LI
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Governador Mauro Carlesse fala sobre a convocação para prestar depoimento na CPI da Covid

O governador Mauro Carlesse (PSL) publicou um vídeo nesta quinta-feira (27) comentando a convocação para depor no Senado Federal durante a CPI da Covid-19 e afirmando que o Tocantins “nunca enfrentou falta de material que pudesse atrapalhar a vida ou não atender a população”. Ele deverá prestar esclarecimentos sobre o uso do dinheiro enviado pela União para o combate à pandemia no estado e sobre a compra de máscaras pelo valor unitário de até R$ 35. O suposto superfaturamento dos itens foi investigado pela Polícia Federal no ano passado.

“Estou à disposição e assim que me chamarem eu estarei lá, mas quero dar uma satisfação para toda a nossa comunidade. Nós temos diariamente todas as informações no portal da transparência e hoje estou colocando um resumo de tudo que nós recebemos, do dinheiro da União para o coronavírus. E colocando a disposição dos senhores que tiverem interesse de olhar a seriedade que esse governo tem tratado o dinheiro público”, disse.

O “resumo” citado pelo governador diz apenas que o governo do Tocantins recebeu um total de R$ 142 milhões para o combate à Covid-19 até a primeira quinzena de abril, incluídos neste valor doações de equipamentos de proteção e respiradores.

Também afirma que o Tocantins criou 481 leitos exclusivos para pacientes com a Covid-19, sendo 266 clínicos e 181 UTIs.

Só que o Portal da Transparência do governo federal traz valores diferentes. Apenas 2020 o Estado do Tocantins teria recebido R$ 155.491.361,66 em verbas para combater a pandemia. Em 2021 o número já chega em R$ 19.967.578,55.

G1 questionou o governo estadual sobre a diferença entre os valores e aguarda um posicionamento.

Governador Mauro Carlesse em vídeo divulgado pelo governo — Foto: Reprodução

Governador Mauro Carlesse em vídeo divulgado pelo governo — Foto: Reprodução

No vídeo oficial o governador também afirma que o Estado nunca enfrentou a falta de oxigênio ou de outros materiais:

“O Tocantins é o único estado que nunca passou e nunca teve uma crise, nunca teve uma falta de oxigênio, nunca teve a falta de nenhum material que pudesse atrapalhar a vida ou dessa forma não atender a população”.

 

A informação, todavia, pode ser confrontada com fatos como a morte do idoso Francisco Pereira, de 68 anos, que passou as últimas horas de vida sentado em uma cadeira no hospital público de Pedro Afonso, com dificuldades de respirar. Depois de muitos dias aguardando, ele conseguiu um leito de UTI em Araguaína, mas na hora da transferência faltou uma ambulância.

Também é fato que durante várias semanas dezenas de leitos de UTI Covid ficaram bloqueados por falta de medicamentos do kit intubação e até pelo risco de desabastecimento devido à falta de pagamentos por parte do governo estadual.

No Hospital e Maternidade Dona Regina, em Palmas, o centro cirúrgico chegou a ser fechado em vários momentos porque as salas foram utilizadas para internação de mães e bebês com suspeita de Covid-19. Funcionários da unidade fizeram protestos cobrando EPIs e uma médica chegou a relatara que a “situação era sufocante” e era uma “ilusão dizer que foi criado um espaço Covid”.

A convocação

 

Mauro Carlesse (PSL) foi convocado nesta quarta-feira (26) para prestar depoimento na CPI da Covid no Senado Federal, em Brasília (DF). O requerimento foi apresentado pelo senador Alessandro Vieira (Cidadania – SE) para que o governador do Tocantins esclareça os fatos investigados pela Polícia Federal na operação Operação Personale.

O depoimento à CPI ainda não tem uma data marcada. Em nota, a Secretaria de Estado da Comunicação informou que o governador Mauro Carlesse está tranquilo e não vê obstáculo nessa convocação.

Durante duas fases da operação, realizadas em junho e dezembro do ano passado, a PF apurou suspeitas de superfaturamento em contratos para compra de máscaras N95 que seriam usadas pelos profissionais da saúde durante o enfrentamento à pandemia.

Na primeira fase, a PF investigou a compra de 12 mil máscaras de duas empresas. O custo somado chegou R$ 420 mil, sendo que o governo chegou a pagar R$ 35 por unidade, mesmo tendo processo de licitação para comprar itens idênticos por valores entre R$ 1,93 e R$ 3,64.

Já na segunda fase da investigação, em dezembro do ano passado, foi investigado um terceiro contrato para a compra e 88 mil máscaras do mesmo modelo. Neste caso, o valor unitário foi de R$ 29,35, totalizando R$ 2.582.800,00.

Na época, o governo afirmou que as compras sem licitação foram feitas devido a “iminente necessidade das Unidades Hospitalares” e que em “razão do sobrepreço, a própria gestão realizou a denúncia aos órgãos competentes, que embasaram as investigações da PF”.

A CPI da Covid foi iniciada pelo Senado Federal para apurar ações e omissões da União durante a pandemia, mas durante as sessões os senadores, principalmente da base do presidente, reivindicaram a convocação de governadores.

Eles alegam que a CPI deve investigar supostos casos de corrupção nos estados envolvendo recursos para combate à pandemia.

Valores recebidos pelo Tocantins para a pandemia em 2020 — Foto: Portal da Transparência/Reprodução

Valores recebidos pelo Tocantins para a pandemia em 2020 — Foto: Portal da Transparência/Reprodução

Valores recebidos pelo Tocantins para enfrentar a pandemia em 2021 — Foto: Portal da Transparência

Valores recebidos pelo Tocantins para enfrentar a pandemia em 2021 — Foto: Portal da Transparência

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