EUA, Índia, Japão e Austrália ampliam frentes de ação contra a China

EUA, Índia, Japão e Austrália ampliam frentes de
ação contra a China
Quad se reúne presencialmente pela 1ª vez, e Pequim diz que grupo está fadado ao fracasso
24.set.2021 às 19h07
SÃO PAULO
Igor Gielow
Uma semana depois de anunciar um surpreendente pacto militar focado na ascensão
chinesa, o presidente americano, Joe Biden, lançou uma série de iniciativas que visam fazer frente a
Pequim na região do Indo-Pacífico.
O palco para isso foi a primeira reunião presencial de chefes de Estado do Quad, o Diálogo de
Segurança Quadrilateral composto por EUA, Índia, Japão e Austrália —o mesmo país que deverá
receber até oito submarinos nucleares como parte do acordo com Washington e Londres.
Ao mesmo tempo, talvez buscando um tom menos agressivo, os EUA acertaram um acordo para
libertar uma executiva do gigante de telecom Huawei, que estava detida havia três anos no Canadá e
cuja prisão foi fortemente criticada em Pequim.
Em mesas distantes devido à Covid-19, Biden (centro) recebe os premiês Modi (esq.), Morrison (dir.) e Suga (de
costas) na Casa Branca – Evelyn Hockstein/Reuters
24/09/2021 23:39 EUA, Índia, Japão e Austrália ampliam frentes de ação contra a China – 24/09/2021 – Mundo – Folha
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Seja como for, Biden recebeu os premiês Narendra Modi, Scott Morrison e Yoshihide Suga na Casa
Branca, e o tom que transpareceu da parte pública da reunião foi voltado a ampliar a ação de
contenção da expansão chinesa em seu entorno estratégico.
“Nós estamos juntos aqui no Indo-Pacífico, uma região que queremos ver livre de coerção, com
direitos soberanos de nações respeitados e onde disputas são resolvidas pacificamente”, disse
Morrison na abertura do encontro.
Horas antes, a China passara recibo. “Uma camarilha fechada e exclusiva visando outros países vai
contra a tendência do nosso tempo e as aspirações dos países da região. Ela não encontrará apoio e
está condenada ao fracasso”, disse um porta-voz da chancelaria chinesa, Zhao Lijian.
Biden se mostrou decidido a reativar o Quad, criado em 2007 e que dormitou como uma iniciativa até
que Donald Trump o reativou em 2017 como parte de sua Guerra Fria 2.0 contra os chineses. O
republicano, como em quase tudo o que fez na política externa, não conseguiu dar um norte coeso ao
grupo.
É isso o que Biden tenta agora. O Quad nasceu como uma aliança de segurança e tem um componente
militar poderoso, que são exercícios navais anuais perto da costa indiana, que a Austrália só passou a
integrar no ano passado, quando a pressão exercida pela China cresceu.
Como havia questionado a questão da origem da pandemia da Covid-19 na China, Canberra foi
punida com um pacote de retaliações que, ao fim, desembocou no pacto militar com EUA e Reino
Unido.
Em março, Biden havia promovido a primeira reunião de chefes de Estado do grupo, virtualmente. Ao
vivo, nesta sexta (24), retomou uma das promessas do encontro anterior: a distribuição de vacinas
contra Covid-19 pela Ásia.
“Os povos da região vão ser muito beneficiados”, disse Modi, cujo país será a base para a produção de
1 bilhão de doses de imunizantes para distribuição regional.
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Isso deveria ter acontecido em abril, mas naquele mês a pandemia espiralou fora de controle na
Índia, levando o governo a suspender exportações para lidar com o problema doméstico.
Agora, disse o premiê, tudo está certo para que o efetivo de vacinas seja entregue até o fim de 2022. A
China vinha trabalhando fortemente na sua diplomacia vacinal também, em especial em países da
região e na América Latina —onde a Coronavac foi o primeiro imunizante a ser usado no Brasil.
Também será anunciada uma iniciativa para tentar proteger a cadeia produtiva de semicondutores,
os chips cuja falta no mercado mundial desacelerou a indústria automobilística no mundo todo. A
produção é centrada em Taiwan, ilha que Pequim considera uma província rebelde.
Além disso, serão criados mecanismos para reforçar o combate à pesca ilegal, acusação sempre feita à
China no Indo-Pacífico, e a promoção de tecnologia ocidental para redes 5G, dando sequência ao
relativamente bem-sucedido esforço americano de tirar mercado da Huawei.
Tudo isso dá um tempero de frente ampla, não só focada na potencial obstrução militar de vias
marítimas vitais para o comércio e a produção chineses, mas também em aspectos econômicos e
diplomáticos diversos.
O Quad nunca foi um grupo muito coeso. Até o ano passado, a Austrália relutava em bater de frente
com a ditadura comunista, sua maior parceira comercial. A Índia, também até 2020, adotava uma
política algo ambígua, buscando equidistância na briga EUA-China.
Só o Japão, que se vê ameaçado diretamente pelo alcance de armas chinesas, era mais incisivo, e
ainda assim adotando um tom diplomático. Nesta reunião, contudo, sua voz foi anulada pela
condição de “pato manco” de Suga, que está demissionário.
Os australianos formalizaram o Aukus, acordo que une as siglas de seu país, EUA e Reino Unido. Já
os indianos tiveram uma grave escaramuça fronteiriça com os chineses, com dezenas de mortos,
virando de vez sua preocupação estratégia para o rival também armado com bombas nucleares.
Historicamente, o principal adversário indiano é o Paquistão, com que já travou diversas guerras
desde que o país muçulmano foi criado de uma costela da antiga Índia Britânica.
Só que os paquistaneses deixaram a órbita americana e passaram à chinesa ao longo das duas
décadas de guerras a partir do 11 de Setembro.
Na visão de Nova Déli, China e Paquistão formam um bloco único, agravado agora pelo fato de que
a retirada dos EUA do Afeganistão deixou o país à mercê da influência de Pequim, que apoiou a volta
do Talibã ao poder, e de Islamabad, aliada dos fundamentalistas.
Ainda assim, é cedo para dizer se o Quad terá uma conotação militar mais ostensiva. Mesmo sua
forma de exercer pressão em outras arenas pode não ser muito atrativa a outros países da região,
praticamente todos grandes parceiros comerciais dos chineses.
Do ponto de vista geopolítico, o grupo simboliza uma tentativa de cerco às rotas chinesas —e de
proteção ao comércio americano, que transita pelas águas da regiãoalgo como US$ 2 trilhões anuais

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