Caro leitor,
O texto a seguir foi retirado de uma reportagem da revista Crusoé que revela o conteúdo de grampos inéditos com detalhes da farra de Joesley Batista, da JBS, com o poder:
Domingo, 26 de outubro de 2014. A cúpula de uma das maiores companhias do Brasil se reúne em uma exuberante mansão no Jardim Europa, na capital paulista, para acompanhar a contagem dos votos do segundo turno. Havia uma eleição presidencial em aberto. Dilma Rousseff e Aécio Neves protagonizavam uma das mais acirradas disputas eleitorais da história brasileira desde a redemocratização. A casa é de Joesley Batista, o dono da JBS. O empresário, alçado havia alguns anos ao estrelato dos negócios pela política dos campeões nacionais do governo Lula, tinha se tornado também um dos maiores financiadores de campanha do país. A ideia do convescote, para o qual ele reuniu alguns de seus parceiros mais próximos, era conferir o resultado do investimento. O grupo se reuniu à beira da piscina. A festa, regada a muita bebida, com a turma se jogando na água de roupa e tudo, entraria pela madrugada. E acabaria, sem que ninguém ali soubesse, por proporcionar a um grupo restrito de investigadores da Polícia Federal um retrato bem-acabado, e até hoje inédito, do auge da influência de Joesley e da JBS sobre o poder, graças aos milhões que o grupo colocava nas mãos dos políticos.
É isso mesmo.
Enquanto Joesley e sua turma comemoravam na piscina a reeleição de Dilma, a PF monitorava tudo.
As gravações inéditas, obtidas com exclusividade, revelam a promiscuidade entre Joesley e os donos do poder de então.
Os grampos mostram conversas entre Joesley e personagens como Michel Temer, o petista Fernando Pimentel, o emedebista Eduardo Cunha e o tesoureiro de campanha de Aécio Neves.
Além da intimidade com o dono da JBS, os diálogos revelam que, invariavelmente, os políticos eram extremamente gratos ao generoso financiador de campanha:
É o que deixa claro Michel Temer, ao falar com Joesley:
“Obrigadíssimo, amigo, obrigadíssimo. Agora, vem cá. Agora vamos fazer aquele almoço ou aquele jantar no Jaburu?”
Fernando Pimentel:
“Obrigado por tudo, abraço”.
Eduardo Cunha:
“Muito obrigado por tudo, por tudo você foi 100%, tá?”
A reportagem explica a razão de tamanha felicidade com a reeleição. E tamanha simpatia por parte dos políticos:
Joesley tinha motivos de sobra pra comemorar a continuidade da dobradinha PT-MDB no poder. Afinal, foi durante a era petista, e à custa de facilidades obtidas em Brasília, que o seu frigorífico deixou de ser mais uma empresa para se tornar a maior produtora mundial de proteína animal, com um faturamento de 120 bilhões de reais em 2014. Como revelaram mais tarde as investigações, e os próprios executivos do Grupo JBS em suas delações premiadas, grande parte desse crescimento foi consequência da articulada estratégia da empresa de encher o bolso de políticos, seja por meio das gordas doações eleitorais oficiais, seja pelas entregas de dinheiro em espécie por fora, em troca de facilidades.
É uma reportagem suculenta.
Seu conteúdo pode ser indigesto.
Mas, a exemplo dos alimentos ricos em nutrientes, é um prato necessário.
Necessário para quem quer entender o Brasil e, mais do que isso, passar o país a limpo.
E nós sabemos por que oferecemos esse prato a você, caro leitor.
Essa é a tarefa do jornalismo independente: mergulhar nos bastidores do poder e revelar acontecimentos e articulações que os poderosos querem manter em sigilo.