Fé, drogas e abuso sexual

Fé, drogas e abuso sexual

Em inquérito aberto no 14º DP, de São Paulo, quatro mulheres denunciam o místico Gê Marques por ter usado sua liderança religiosa para cometer assédios

Crédito: Divulgação

DENÚNCIA Gê Marques é acusado por quatro mulheres por abusos cometidos no templo Reino do Sol entre 2008 e 2010 (Crédito: Divulgação)

Vicente Vilardaga

Mais um líder religioso está sendo acusado de abuso sexual. É Antonio Alves Marques Júnior, conhecido como Gê Marques, de 62 anos, que comanda o templo Reino do Sol, em Mairiporã (SP), que mistura rituais do Santo Daime com a umbanda. Quatro mulheres denunciaram Gê Marques em 2016 ao Ministério Público por abusos cometidos entre 2008 e 2010. O inquérito corre em segredo de Justiça na 14ª Distrito Policial e ainda não evoluiu para uma denúncia judicial. As investigações avançam, mas Gê Marques ainda não foi ouvido no inquérito. Seu advogado, Luiz Eduardo Kuntz, diz, porém, que ele está à disposição da polícia. As vítimas acusam Gê Marques de abusar delas quando estavam sob efeito da ayahuasca ou de outras drogas. Antes de criar seu próprio grupo religioso, ele pertencia à igreja Céu de Maria, comandada pelo cartunista Glauco, assassinado em 2010.

Uma das quatro vítimas que acusam Gê Marques é Ana (nome fictício), que falou com exclusividade para a ISTOÉ. Ela conta que passou dez anos freqüentando o templo Reino do Sol e sofreu vários abusos, o primeiro deles em 2008. Segundo Ana, na ocasião, durante um café da manhã, Gê Marques lhe ofereceu uma dose de ecstasy e entrou numa conversa sobre sexualidade. Ana acabou tomando meia pastilha da droga e perdeu a capacidade de resistência. “Eu estava incomodada, mas ele começou a me fazer massagens e a passar a mão no meu corpo”, lembra. “Quando sentei, ele passou a se masturbar na minha frente.” Ana manteve seu caso em segredo durante oito anos, até descobrir que outras mulheres também haviam passado por situações semelhantes. “Eu gostava do Reino do Sol porque era como uma família para mim”, afirma Ana. “E por isso preferi ficar em silêncio em vez de abalar minha relação com aquele grupo de pessoas”.

As vítimas acusam Gê Marques de abusar delas enquanto estavam indefesas, sob efeito da ayahuasca ou de outras drogas

“A gente recebeu com bastante surpresa e indignação essas falsas acusações e está muito interessado no bom andamento do inquérito para descobrir quem é o mentor intelectual desses ataques”, diz o advogado de Marque. “A nossa percepção é que isso está sendo orquestrado por alguém que conseguiu convencer outras pessoas para seguir essa linha de acusação e montar essa história, que é uma verdadeira distorção da realidade”. Gê Marques nega veementemente as acusações.

CADEIA Com problemas de saúde, João de Deus é levado para hospital em Goiânia (Crédito:WILDES BARBOSA)

O caso João de Deus

Na última quarta-feira 16, a Justiça de Goiás aceitou uma nova denúncia contra o médium João Teixeira de Faria, o João de Deus, pelos crimes de estupro de vulnerável e violação sexual. As vítimas que o acusam são de oito estados. Uma delas diz ter sofrido abuso na infância e na adolescência. Há cinco casos em que os crimes ainda não prescreveram. Desde o dia 16 de dezembro, João de Deus, que enfrenta problemas de saúde, está preso no Núcleo de Custódia de Aparecida de Goiânia (GO), por conta de outra denúncia em que é acusado de abusos e estupro por quatro mulheres.

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