Homem que movimentou R$ 12 milhões em esquema de cestas básicas andava de moto na chuva polícia diz que ele era laranja

Por Patrício Reis e Ana Paula Rehbein, g1 Tocantins

 


Fraudes nas cestas básicas: polícia monitorou suspeitos por meses após denúncia anônima

Fraudes nas cestas básicas: polícia monitorou suspeitos por meses após denúncia anônima

O suposto dono de uma das empresas que teria fraudado a entrega de cestas básicas durante a pandemia chegou a receber R$ 12 milhões do governo do estado. Apesar disso, os investigadores descobriram que homem levava uma vida simples e andava pelas ruas de Palmas em uma moto, mesmo em dias de chuva. A suspeita é de que ele era laranja do empresário Welber Guedes, que seria o real proprietário da empresa e teria desviado quase R$ 5 milhões.

A investigação sobre o suposto esquema de fraudes começou com uma denúncia anônima. A informação repassada à polícia era de que Welber Guedes de Morais, que tinha sido preso por supostas fraudes em obras de asfalto, mudou de ramo e passou a fornecer os alimentos distribuídos pela Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social (Setas). Os contratos foram feitos sem licitação e superfaturados.

Para tentar escapar da fiscalização ele teria aberto empresas e colocado no nome de laranjas, como Diego Oliveira Coimbra. As imagens de vigilância da Polícia Civil revelam que apesar de movimentar os R$ 12 milhões em nome da empresa, o homem levava uma vida simples e andava em uma moto até em dias de chuva.

Os agentes não têm duvidas de que ele emprestou o nome para Welber Guedes. A defesa dos dois disse que os contratos de entregas das cestas básicas foram cumpridos integralmente e negaram qualquer irregularidade.

A Polícia Civil analisou 23 notas fiscais de duas empresas que seriam ligadas a Welber Guedes e que forneciam as cestas básicas. A força-tarefa encontrou indícios de que os fiscais destes contratos atestavam que o governo recebeu produtos que nunca foram entregues.

Cestas básicas e frangos foram usados em fraudes — Foto: Governo do Tocantins/Divulgação

Cestas básicas e frangos foram usados em fraudes — Foto: Governo do Tocantins/Divulgação

A polícia conseguiu montar uma tabela relacionando os itens que foram fraudados. Do total de arroz que o governo pagou, 38.407 pacotes não foram entregues e a empresa recebeu, indevidamente, R$ 384 mil. No caso do óleo de soja o desvio aos cofres públicos foi de R$ 109 mil.

Prejuízo também em relação aos pacotes de café: 51.108 não foram entregues, gerando desvio de R$ 91 mil. Outra apuração da polícia aponta que o governo comprou 30 mil frangos congelados, mas só recebeu dez mil unidades, pagando R$ 358 mil indevidamente.

O prejuízo total estimado, apenas em produtos que não foram entregues, é de R$ 1.852.788. Na última quarta-feira (27) os policiais cumpriram mandados de busca e apreensão nos endereços de Welber Guedes e outros envolvidos. A Justiça decretou o sequestro de bens e afastou dois servidores.

Investigado movimentou R$ 12 milhões, mas andava de moto na chuva — Foto: Reprodução/TV Anhanguera

Investigado movimentou R$ 12 milhões, mas andava de moto na chuva — Foto: Reprodução/TV Anhanguera

Lavagem de dinheiro

 

A polícia identificou que o dinheiro adquirido pela fraude era transferido para contas bancárias de empresas operadas por laranjas. Os investigados também compravam veículos, mas o que mais chamou a atenção dos investigadores foi um mercado que supostamente funcionava como fachada para o grupo criminoso.

A polícia descobriu que eles compravam uma grande quantidade de carne de bovinos da raça Angus em um frigorífico no Rio Grande do Sul. A quantidade era tão desproporcional à demanda do mercado que chamou atenção até do fornecedor.

Uma testemunha contou á polícia que os cortes da raça Angus chegavam a ser vendidos como carnes ordinárias, da raça nelore, ou até mesmo utilizados na fabricação de linguiça quando não havia saída esperada. Isso servia para lavar o dinheiro do crime e atribuir um fluxo de caixa irreal.

A operação

 

A Polícia Civil realiza uma operação na manhã desta quarta-feira (27) para investigar possíveis fraudes em contratos de compra de cestas básicas praticadas pelo governo do Tocantins. Mandados de busca e apreensão são cumpridos na sede da Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social (Setas) e em um condomínio de luxo, onde moram alguns dos alvos.

Sete pessoas são investigadas. A suspeita é de que cestas básicas que deveriam ter sido usadas para atender famílias que foram prejudicadas economicamente pela pandemia de Covid-19 não tenham sido efetivamente entregues enquanto as empresas contratadas recebiam o valor adiantado.

A ação é uma extensão de uma operação realizada em janeiro deste ano. Os contratos foram assinados durante o governo de Mauro Carlesse, que renunciou ao cargo em março deste ano. Na época uma força-tarefa da Diretoria de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado (DRACCO) cumpriu mandados em Palmas e Guaraí.

O que diz a Setas e o ex-governador Mauro Carlesse

 

A Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social (Setas) informa que está colaborando com as investigações da Polícia Civil, prestando todas as informações solicitadas. A pasta esclarece que todas as medidas estão sendo tomadas com a instauração de um processo administrativo para investigar supostos atos ilícitos que tenham sido praticados por servidores e ex-servidores.

O órgão reitera que os seus atos administrativos são regidos dentro das boas práticas da transparência e da legislação. É importante ressaltar que os processos referentes às aquisições e aos contratos realizados respeitaram o período pandêmico, bem como Decreto de Calamidade Pública, salientando que todas as informações pertinentes estão disponíveis no Portal da Transparência.

Por fim, a Setas reforça que o órgão preza pelas boas práticas da gestão pública e é contra qualquer ilícito, tendo seus processos analisados internamente e também passando pelo crivo dos órgãos de controle.

O ex-governador Mauro Carlesse afirmou, em nota, que em relação a investigação da Polícia Civil sobre a aquisição de cestas básicas é importante esclarecer o que segue:

O ex-governador Mauro Carlesse deixou a administração estadual em 20 de outubro de 2021. E segundo a própria reportagem nos informou, as investigações em curso tiveram início em janeiro de 2022, sobre um contrato assinado no mês de novembro de 2021, ou seja, já durante a gestão atual do Governo. Inclusive é fato público, que os atos de extorsão que deram início às investigações ocorreram após a assinatura deste contrato citado anteriormente. Portanto, sem nenhuma relação com a gestão Mauro Carlesse.

Cabe destacar, que o ex-governador jamais foi responsável pela gestão de contrato de aquisição de cestas básicas, cabendo aos responsáveis pelas referidas despesas prestarem as informações necessárias às investigações.

Veja mais notícias da região no g1 Tocantins.

Comentários
você pode gostar também