Permitir que o Judiciário siga em ritmo próprio pode ser boa estratégia de defesa para quem é flagrado em malversação de dinheiro público. Um exemplo sintomático veio à tona nesta terça-feira, quando a força-tarefa Lava Jato em Curitiba ratificou denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra os ex-senadores Romero Jucá e Valdir Raupp, envolvidos ao lado de mais cinco réus em esquema de corrupção mantido na Transpetro.

Para assinar contratos com a estatal, a NM Engenharia e a Odebrecht Ambiental pagaram propina aos então senadores do MDB entre 2008 e 2012, disfarçada de doação eleitoral oficial, de acordo com o relato dos que assinaram a conta e abriram o episódio em acordos de colaboração premiada.

Jucá é o senador gravado discutindo estratégias para “estancar a sangria” representada, em 2016, pela Lava Jato, próxima de acertá-lo. “Se é político, como é a política? Tem que resolver essa porra. Tem que mudar o governo”, dizia ele, articulador do impeachment de Dilma e ascenção de Michel Temer.

Na gravação, ele defendia um “grande acordo nacional” pró-estancamento. “Com Supremo, com tudo”, concluiu, em frase que entrou para os anais da política brasileira.

Não se conhece todos os detalhes da articulação política do grupo do MDB depois disso, mas o fato é que calhou, anos depois, de o Supremo acabar ajudando o grupo. Depois da denúncia contra os senadores, em agosto de 2017, o ano seguinte passou inteiro, e nada aconteceu para Jucá e Raupp.

Os dois perderam o cargo nas eleições de outubro e, em fevereiro do ano seguinte, os autos foram encaminhados à primeira instância, isto é, à Justiça Federal do Rio de Janeiro, por determinação do STF.

Em maio do ano passado, o ministro Edson Fachin decidiu que o caso deveria ser redirecionado para a Justiça Federal em Curitiba. A decisão era ótima para a Lava Jato. Mas parece que alguém se esqueceu de cumpri-la.

O processo só chegou ao Paraná em 17 de dezembro do ano passado, sete meses depois, de acordo com os registros do MPF. Se colocados no lombo de um burro, os autos percorreriam esta distância 30 vezes, no mesmo período.

“Quanto se espera que dure um processo da primeira instância à última? Estamos falando de um caso com alta visibilidade, porque é da Lava-Jato. Imagine o que acontece com o resto? O sistema parece que existe para não funcionar”, desabafa um integrante da Lava Jato, desgostoso com o ritmo destes tempos de combate à corrupção.