Mulher é morta durante invasão ao Congresso americano Biden fala em insurreição
*Atualizada às 22h50 de 6 de janeiro de 2020
Uma mulher, civil e de identidade ainda não revelada, morreu baleada após conflitos entre policiais e manifestantes que invadiram a sede do Congresso americano na tarde desta quarta-feira (06/01), durante o processo de certificação da vitória do presidente eleito Joe Biden.
Depois de uma grande manifestação que contou com a presença do atual presidente Donald Trump em frente à Casa Branca, alguns participantes marcharam até o Capitólio para denunciar o que consideram uma fraude eleitoral — o republicano afirmou aos presentes que eles e seus apoiadores “nunca concederiam” a vitória de Biden.
Após enfrentar policiais nas entradas do Congresso, algumas pessoas conseguiram entrar no prédio, o que levou à suspensão das sessões no Senado e na Câmara e ao bloqueio de acesso aos corredores das duas casas.
Com isso, a prefeita de Washington D.C. anunciou um toque de recolher a partir de 18h no horário local (20h em Brasília).
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Segundo Kayleigh McEnany, porta-voz da Casa Branca, a Guarda Nacional foi convocada para controlar a situação.
Por volta de 22h no horário de Brasília, o Senado retomou a sessão, e espera-se que a Câmara faça o mesmo em breve.
No retorno do Senado, o vice-presidente, Mike Pence, afirmou que o Capitólio viveu um “dia sombrio”.
“Para aqueles que causaram danos ao Capitólio hoje, vocês não ganharam”, disse Pence, acrescentando que, diferente de relatos mais cedo, nunca deixou o prédio do Legislativo para se abrigar.
Nos Estados Unidos, o vice-presidente cumpre também o papel de presidente do Senado.
“A violência nunca vence. A liberdade vence e esta ainda é a casa do povo. Ao nos reunirmos novamente nesta casa, o mundo testemunhará novamente a resiliência e a força de nossa democracia, mesmo depois de violência e vandalismo sem precedentes.”
O que aconteceu de tarde
A certificação, que normalmente é uma mera cerimônia de formalização, se tornou um evento repleto de emoções e controvérsias neste ano, uma vez que Trump se recusa a reconhecer a idoneidade do processo eleitoral e sua derrota.
Vídeos postados por jornalistas nas redes sociais mostraram confrontos entre policiais e manifestantes nos corredores do Capitólio.
O vice-presidente Mike Pence, que presidia a sessão de certificação, foi levado para um local seguro, enquanto outros parlamentares se abrigaram em seus gabinetes.
Funcionários do Congresso e jornalistas presentes no local relataram ter recebido ordens de se resguardar e colocar máscaras contra gás lacrimogêneo.
Os apoiadores do republicano que conseguiram entrar no Capitólio gritavam “We want Trump” (“Queremos Trump”) e tiravam fotos com estátuas e outras instalações da construção histórica.
Redes sociais retiram vídeo e conta de Trump
Em vídeo gravado na Casa Branca e publicado no Twitter, Trump chegou a pedir que os invasores do Capitólio voltassem para casa. Horas depois, a rede social suspendeu a conta do presidente por pelo menos 12 horas afirmando que as mensagens dele questionando a integridade da eleição tinham relação com os atos de violência.
“Sei da sua dor. Sei que está machucado”, afirmou Trump no vídeo, alegando falsamente que a eleição foi “roubada”.
“Todo mundo sabe disso. Especialmente do outro lado (oponentes). Mas vocês precisam ir para casa agora.”
O Facebook e Youtube também removeram conteúdo postado pelo presidente com justificativas parecidas.
Minutos antes do pronunciamento de Trump, o presidente eleito, o democrata Joe Biden, havia feito um discurso desde Wilmington, Delaware, pedindo que Trump desse “um passo à frente” e pedisse na TV “o fim desta ocupação”.
“Não é um protesto, é uma insurreição”, afirmou Biden, cobrando que os apoiadores de Trump “recuam e permitam que o trabalho da democracia siga em frente”.
Da festa à fúria
Há mais de uma semana, o presidente Trump havia convocado uma marcha de apoiadores em Washington D.C. para pressionar os congressistas a acatar os pedidos de objeção à vitória de Biden feitas pelos seus aliados. Milhares de pessoas, de estados como Geórgia, Michigan, Flórida, Kentucky dirigiram por horas para, como disse o empreiteiro Joe Shields, de 45 anos, “tentar impedir que roubem nossa democracia”. Shields e a mulher, Donna, carregavam uma placa na qual se lia “Trump ou Tirania”.
Eles se juntaram por volta das 9 horas da manhã, milhares de manifestantes que se reuniam em frente ao Obelisco da capital americana e entoavam cantos de “Mais quatro anos” e “Parem a roubalheira”. Embalados por músicas como ‘Macho Man’, do Village People, e agitando bandeiras americanas e da campanha trumpista, os manifestantes passaram horas ouvindo de aliados do presidente que estavam sendo enganados e que hoje seria o dia de revidar.
“Hoje é o dia em que os patriotas americanos começam a anotar nomes e detoná-los”, afirmou o deputado republicano Mo Brooks, o primeiro a oferecer uma objeção à vitória de Biden, sobre os colegas que não queriam embarcar na manobra política.
Mas o clima passou do festivo para o raivoso quando, por volta de meio-dia no horário de Wahington D.C., Trump iniciou seu discurso. O presidente retomou acusações sem provas de que a eleição foi roubada e se voltou contra os integrantes de seu próprio partido. Trump disse ao público que era preciso se “livrar de republicanos fracos”.
Via Twitter, ele foi ainda mais longe e atacou diretamente o vice-presidente Mike Pence por, a seu pedido, não alterar o resultado eleitoral, algo que legalmente ele não poderia fazer. “Mike Pence não tem coragem para fazer o que é preciso para proteger o nosso país”, escreveu o presidente.
Antes mesmo que Trump terminasse seu discurso, a multidão começou sua marcha em direção ao Congresso. Ao chegar aos arredores do prédio, souberam que do lado de dentro republicanos discursavam que acatar o pedido de Trump seria retirar a democracia do país do rumo.
O líder do partido no Senado, Mitch McConnell, afirmou que “nada diante de nós prova que houve em qualquer lugar ilegalidade próxima à escala necessária para ter definido a eleição. Nem pode a dúvida pública por si só justificar uma ruptura radical quando a própria dúvida foi incitada sem qualquer evidência”.
A partir daí, a pressão de milhares de pessoas do lado de fora do prédio não pode ser contida pela força policial.