Padre que estava dentro do ônibus que tombou em GO relata momentos de desespero: estou abalado

Por Jesana de Jesus, g1 Tocantins

 


Ônibus tomba na BR-153, em Uruaçu, Goiás — Foto: Corpo de Bombeiros/Divulgação

Ônibus tomba na BR-153, em Uruaçu, Goiás — Foto: Corpo de Bombeiros/Divulgação

O padre José Ney Rodrigues Glória, morador de Lagoa do Tocantins, faz parte do grupo de passageiros que ficaram feridos durante o tombamento de um ônibus, na BR-153, perto de Uruaçu (GO), nesta segunda-feira (8). Em entrevista ao g1, ele relatou momentos de desespero, gritaria e terror durante o acidente.

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Duas pessoas morreram e pelo menos 50 ficaram feridas. Isabella Victoria Martins Santos Soares Santana, de 20 anos, era moradora de Porto Nacional e não resistiu. Ela estava voltando da missa de 7° dia do irmão, que morreu em Goiânia (GO). Uma irmã de Isabella estava com ela no ônibus e sofreu ferimentos graves.

Padre José Ney Rodrigues Glória ficou ferido em acidente com ônibus na BR-153, em Uruaçu — Foto: Reprodução/Instagram

Padre José Ney Rodrigues Glória ficou ferido em acidente com ônibus na BR-153, em Uruaçu — Foto: Reprodução/Instagram

“Algo que ficou marcado na minha mente foi a imagem da Isabella, que morreu. Ela estava deitada na poltrona, sozinha, atrás de mim. Do outro lado do ônibus, estava a irmã dela. Quando tudo aconteceu, a irmã começou a gritar: ‘Isabella, Isabella’. Ela ficava falando que não poderia perder a irmã porque tinha acabado de perder o irmão”.

 

A irmã foi tirada do ônibus e no momento reclamava de muitas dores. Foi levada para o hospital de Uruaçu e só depois soube da morte de Isabella.

A segunda vítima do acidente também era moradora de Porto. Ela se chama Luzini Pereira Vidal, de 57 anos, e segundo amigos próximos, a vítima estava vindo do estado de São Paulo.

Isabella Martins morrem em acidente na BR-153 — Foto: Redes sociais/Divulgação

Isabella Martins morrem em acidente na BR-153 — Foto: Redes sociais/Divulgação

O momento do acidente

 

O padre José e um grupo de amigos haviam ido para Goiânia, no último fim de semana, celebrar o batizado de duas crianças. “No domingo, eu estava voltando para casa contente com tudo o que tinha acontecido ali. Eu iria para Palmas e depois para Lagoa do Tocantins”.

No domingo à noite, o ônibus parou em Jaraguá (GO) para que os passageiros pudessem jantar. Depois, todos entraram no veículo e dormiram. Por volta de meia-noite e meia, o padre acordou com gritos.

“Começamos a escutar gritos. Naquele momento, o ônibus tinha saído da pista e havia tombado. Depois, ele começou a arrastar no chão e foi aquele susto grande. O momento era tenso, estava tudo escuro, não sabíamos direito o que tinha acontecido. Começou a entrar muita terra dentro do veículo porque o local era usado para plantio de agricultura e havia muita terra solta”.

O padre contou que a luz se acendeu e os passageiros começaram a sair pela parte de cima do ônibus. O medo era que a qualquer momento, o veículo pudesse pegar fogo. Cerca de 15 minutos depois, os socorristas chegaram para atender os feridos. Todos foram levados para Uruaçu.

José Ney disse que sofreu uma lesão leve no olho e machucou o quadril por causa do cinto de segurança. Ele foi atendido, medicado e liberado. Por volta das 3h30, foi encaminhado a um hotel para que pudesse descansar.

Os passageiros que tiveram ferimentos mais leves foram liberados na segunda-feira e, por volta das 14h, embarcaram novamente em um veículo com destino a Palmas.

Padre e amigos voltam para casa após acidente com ônibus em Uruaçu — Foto: Divulgação

Padre e amigos voltam para casa após acidente com ônibus em Uruaçu — Foto: Divulgação

O fato de entrar novamente em um ônibus aterrorizou os passageiros. A viagem que duraria 7 horas foi concluída em mais de 12h.

“Imagina o terror da volta. O motorista freava um pouco e todo mundo ficava tenso, apreensivo, toda hora falávamos para o ônibus parar porque tínhamos a impressão de que ele estava andando rápido demais. Estava todo mundo com medo. Quando anoiteceu, que foi o horário do acidente, o pânico dobrou, quase ninguém dormia dentro do ônibus”.

 

José Ney e os amigos chegaram à capital na madrugada desta terça-feira e novamente, ele não conseguiu dormir.

“Não conseguimos dormir direito desde o acidente. Emocionalmente, estamos sofrendo mais porque fisicamente, eu me machuquei, mas estou me recuperando. Estou abalado, preocupado com tudo, mas grato a Deus pelo livramento”.

Nas redes sociais, ele falou sobre o sentimento de solidariedade e humanidade que tomou conta dos passageiros, em um momento de dor e desespero.

“Vi humanidade em meus amigos me chamando e tentando abrir meu cinto. Vi também em quem me ajudou a sair do ônibus. Vi humanidade no estudante de medicina ajudando as crianças, mulheres e em meu amigo segurança uma mulher desconhecida que não conseguia ficar em pé. Muitos desconhecidos, mas havia intimidade de quem sobreviveu e ficou feliz de estar vivo juntos; e também dor por saber que as mortes tão perto de nós poderiam ser as nossas e que ao invés de outras serem as nossas famílias a chorar o luto”.

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