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Palmas, capital do futuro

Palmas, capital do futuro

  • Atualizado em: 23/Mai/2016 às 14h13).
Palmas, capital do futuroFoto: Foto: Reprodução

LIBERATO PÓVOA
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(Desembargador aposentado do TJ-TO,
Membro-fundador da Academia Tocantinense
de Letras e da Academia Dianopolina de
Letras, escritor, jurista, historiador e advogado)

Com a criação de Brasília, pipocaram vários movimentos para a criação do Estado do Tocantins, dentre os quais foram divulgados os liderados por Feliciano Machado Braga (pelo jornal O Estado do Tocantins), Catão Maranhão (jornal A Tarde), Ruy Carvalho (Jornal de Carolina), Oswaldo da Silva (Jornal A Norma), Trajano Coelho Neto (jornal Ecos do Tocantins) e Fabrício César Freire (Associação Tocantinense de Imprensa).

Por último surgiu a figura de Siqueira Campos, que, desde seu ingresso na política como vereador da cidade de Colinas de Goiás, e apesar de não ser tocantinense, capitaneou o movimento separatista, valendo-se da luta que já vinha sendo travada por Joaquim Teotônio Segurado, Felipe Antônio Cardoso e outros. Siqueira palmilhou a trilha aberta por nortenses ilustres, que ocupavam posições de relevo no Sul, como Darcy Marinho, João d´Abreu, José de Sousa Porto, Ana Braga, Fran¬cisco de Britto, Maximiano da Mata Teixeira, Francisco Maranhão Japiassu e outros, desfraldavam a bandeira separatista.

Criado o Estado pela Constituinte de 1988, houve um grande movimento por parte das três maiores cidades (Araguaína, Gurupi e Porto Nacional), reivindicando o direito de ser a capital do Estado. Mas, numa visão futurista, Siqueira Campos deliberou que esta seria uma nova cidade, e que, a exemplo de Brasília, seria construída a partir do nada, para ser a “Capital do Futuro”. E num gesto de certa forma inusitado, decidiu que, enquanto se construísse a Capital, funcionaria como capital provisória a cidade de Miracema do Norte, frustrando o sonho de Araguaína, Gurupi e Porto Nacional, pois se escolhesse qualquer delas causaria um certo desconforto político.

Enquanto o Governo funcionava em Miracema, despachando o Governador no “Palácio Araguaia” improvisado em uma escola pública nas proximidades do Córrego Correntinho, eram examinadas áreas mais apropriadas para construir a Capital do Estado.

Por uma razão lógica, o Governador escolheu uma área localizada na margem direita do rio Tocantins, no centro geográfico do Estado: como a intenção era construir uma cidade moderna e funcional, não se justificava adaptar como capital uma das cidades existentes, pois agravar-se-iam os problemas sociais por falta de infraestrutura e não havia como se expandir; ademais, a construção de uma nova cidade, embora contando com os parcos recursos do próprio Estado, impunha serenidade e visão de futuro na escolha do local, criar-se-ia um próspero mercado de trabalho, além de desenvolver-se a parte desassistida da margem direita do Tocantins, que contava com apenas oito quilômetros de asfalto, entre Campos Belos-GO e Arraias. Assim, foi escolhido o lugar à margem direita do Tocantins, no povoado de Canelas, que, forçosamente, transformar-se-ia em um polo de desenvolvimento de toda a margem direita, secularmente abandonada.

A decisão de construir no centro geográfico do Estado uma nova cidade, planejada, moderna, para sede do Governo estadual, foi pensada e repensada, após profundas análises por parte do Governador, dos integrantes da Assembléia Legislativa e do primeiro escalão, sem deixar de ouvir técnicos nacionais e estrangeiros, que já haviam projetado cidades semelhantes.

Por 23 votos e uma abstenção, o local foi aprovado pela Assembléia Legislativa, com uma área de 1.024 km2, desmembrados do município de Porto Nacional, a 82 quilômetros de Miracema do Tocantins e 62 da cidade de Porto Nacional.

À escolha do nome precederam sugestões, tendo sido sugerido ao governador o nome de ”Pasárgada”, uma cidade ideal, imortalizada pelo poeta modernista pernambucano Manuel Bandeira, no poema “Vou-me embora pra Pasárgada”, cujos versos diziam:

“Vou-me embora pra Pasárgada,
Lá sou amigo do rei;
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei.
………………………………………………
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
– Lá sou amigo do rei –
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada”.

Mas a escolha não vingou, devido ao caráter erótico da cidade sonhada, e Siqueira escolheu o nome “Palmas”, seja pelos milhões de palmeiras de diversas espécies de que é pródigo o Estado, como o babaçu, o buriti, o tucum e outras, seja para homenagear Teotônio Segurado, que criou a Comarca de Palmas, hoje a cidade de Paranã, que se chamou Palmas até mudar de nome, como Dianópolis que foi São José do Duro; Taguatinga, foi Santa Maria; Aurora do Tocantins foi Arraial da Manhã, e assim por diante.

Criada a cidade, a previsão era de se urbanizarem 1.624 hectares, área suficiente para agasalhar uma população de 120.000 habitantes até o 5º ano; de 200.000 até o 10º ano, podendo, no 15º ano ser de 800.000 habitantes, sem causar transtornos de ordem social, estando prevista uma ampliação para 10.787 hectares até o 15º ano e 102.400 hectares para o futuro.

O planejamento da Capital, projetada pelo “GrupoQuatro – Planejamento e Consultoria”, foi coordenado pelos arquitetos Valfredo Antunes e Luiz Fernando Cruvinel, prevendo uma cidade com amplos espaços, bem distribuídos, totalmente afinada com os preceitos ambientais, onde seus habitantes pudessem viver com o conforto oferecido pela vida moderna, em harmonia com a natureza, sem agredir o meio-ambiente.

Na manhã do dia 20 de maio de 1990, foi celebrada uma missa solene de batismo de Palmas pelo Bispo da Diocese de Porto Nacional, D. Celso Pereira de Almeida, acolitado pelos padres Juracy Cavalcante e Rui Cavalcante e pelo Monsenhor Jacinto Sardinha. Esse ato religioso, celebrado diante de um cruzeiro de pau-brasil plantado em frente ao local onde hoje se ergue a sede do Governo (o “Palácio Araguaia”), marcou o início da construção de Palmas, que emergiu do bom senso, do equilíbrio e dos ideais de esperança do povo tocantinense. Na sua homilia, o bispo disse que a Igreja via com muito bons olhos a promessa da construção de uma cidade humana, com boa distribuição de espaços, “onde o homem não viveria oprimido”.

Logo após a missa, chegou de helicóptero o General Rubem Bayma Denis, Chefe do Gabinete Militar da Presidência da República, representando o Presidente José Sarney.

Ao som do Hino Nacional, foram hasteadas as bandeiras do Brasil, pelo representante do presidente da República, a do Estado do Tocantins, pelo governador Siqueira Campos, e a de Palmas, pelo deputado federal Eduardo Siqueira Campos. Como parte das solenidades, foi também celebrado um culto ecumênico, presenciado por uma enorme multidão.

O governador fez um pronunciamento, anunciando o início das obras de construção da nova Capital, descerrando um marco histórico, com a “Proclamação de 15 de Setembro de 1821”, assinada pelo Ouvidor Joaquim Teotônio Segurado e demais membros do Governo Provisório instalado na cidade de Cavalcante, na então Província de Goiás.

Ao meio-dia, acionando um grande trator e cercado de uma multidão de mais de 10.000 pessoas vindas de todos os pontos do Estado, o Governador deu início à abertura da avenida principal da cidade de Palmas, que tomou o nome de Teotônio Segurado. Dentre os presentes encontravam-se inúmeros empresários de todo o país, interessados em investir no novo Estado e na futura Capital.

E assim, surgiu a Capital do Estado do Tocantins, a última do século, cognominada “A Capital Ecológica”, e “A Capital do Futuro”, que teve como primeiro prefeito Fenelon Barbosa Sales, por ter sido prefeito de Taquarussu do Porto, cujo município englobava o da nova Capital, e o segundo, Eduardo Siqueira Campos, primeiro Prefeito eleito especificamente para Palmas.
Assim surgiu Palmas, uma cidade cosmopolita, que, sempre de braços abertos, acolhe todos que lá chegam para contribuir com uma parcela de trabalho, a ponto de atualmente ter sido criada por um nordestino e governada por um empresário estrangeiro.

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