Após a exoneração do presidente do Instituto de Gestão Previdenciária do Tocantins (Igeprev), Rogério Villas Boas, na última sexta-feira (27), nomes de outros políticos tocantinenses apareceram nas escutas telefônicas da Polícia Federal. Eles estão envolvidos na Operação Miquéias da PF, que investiga desvios em fundos de pensão previdenciários e lavagem de dinheiro.

A operação prendeu cerca de 20 pessoas e foram apreendidos carros de luxo e um iate. A quadrilha seria comandada pelo doleiro Fayed Traboulsi que teria desviado R$ 300 milhões, em 18 meses, em todo o país.  Pagamento de faturas de cartão de crédito e depósitos em conta corrente do ex-presidente do Igeprev teriam sido feitos por Traboulsi.

Além de Villas Boas, as gravações da PF revelam que o grupo do doleiro manteve contato com o prefeito de Araguaína, Ronaldo Dimas (PR), e um encontro teria sido intermediado pelo deputado federal Eduardo Gomes (PSDB/TO), atual secretário de Esportes e Lazer do Tocantins.

Em um dos trechos da gravação, o doleiro conversa com Gomes e o deputado diz: “Eu estou chegando aí.  É que o prefeito está em outro carro. Ronaldo Dimas é o nome dele.” Em um outro momento, Fayed conversa com uma das mulheres que trabalha com ele, para que ela atenda o prefeito no apartamento de Gomes. “Deixa eu te perguntar uma coisa, mas fica à vontade para responder: você poderia atender o prefeito de Araguaína agora? Se não puder eu remarco para amanhã.”

Segundo informações do relatório da PF, o grupo tentou convencer Dimas a aplicar em uma empresa, a Invista Investimentos, controlada por Fayed Traboulsi.

Citados
O prefeito de Araguaína, Ronaldo Dimas, disse que recebe inúmeras pessoas, empresários, que querem o “bem do município”. Segundo ele, o empresário Fayed Traboulsi não queria “tão bem assim” e foi descartado, “como vários outros o foram.”

Ele afirmou ainda que não houve nenhum tipo de negociação com o grupo. “Todo o recurso do instituto de previdência está aplicado em bancos federais”, enfatizou, acrescentando que não houve nenhum contato com o grupo, “nem por telefone nem pessoalmente”.

Já o deputado federal licenciado, Eduardo Gomes, afirmou que conheceu Fayed Trabulsi há cerca de dois anos, em Brasília, quando não havia nenhuma suspeita sobre ele. “Ano passado, o apresentei ao prefeito Ronaldo Dimas, que é meu amigo. Em resumo, apenas apresentei um conhecido a um amigo. Além disso, é do conhecimento público que a prefeitura não fez nenhum investimento nos fundos investigados.”

Rogério Villas Boas disse, por meio de assessoria, que não quer falar com a imprensa e que saiu do governo por motivos pessoais. Ele assumiu a presidência do Igeprev, em janeiro de 2013, mas já tinha participado do governo, quando em setembro de 2012, foi nomeado secretário extraordinário de Minas e Energia do Tocantins para acompanhar a intervenção federal na Companhia de Energia Elétrica do Tocantins (Celtins).

O governador Siqueira Campos já nomeou um subtituto. Rodrigo Alexandre, presidente da agência de fomento do Tocantins, agora também vai responder pelo Igeprev.

Caso Igeprev

Nesta segunda-feira (30), representantes dos Sindicatos dos Servidores Públicos do Tocantins se reuniram para tratar dos problemas relacionados ao Igrepev, que é responsável por garantir a aposentadoria dos servidores públicos do estado e tem em caixa cerca de R$ 2,5 bilhões.

O órgão está sendo investigado pelo Ministério Público, desde o ano passado, para saber se houve prejuízos nas aplicações financeiras e nas retiradas antecipadas de dinheiro do Igeprev. O Ministério da Previdência assinou um termo de ajuste de conduta para o governo do Tocantins corrigir as irregularidades.