18 dias de pânico, causado pelo desconhecido. Eis o relato da gripezinha que acometeu a advogada Daniela Teixeira, a primeira paciente curada do Distrito Federal, segundo dados oficiais divulgados ontem pela secretaria do governo. Em conversa com a coluna, a advogada, que preside a OAB Mulher, relatou algo de que os pacientes pouco falaram até agora: uma permanente sensação de medo, em virtude do desconhecimento.

“O vírus não é distante. Não é uma gripe. A gripe vai acabar, vou ficar dois, três dias, tô ótima. O coronavírus é uma sentença de morte na sua frente. Pode ser uma pneumonia, pode te matar. Qualquer sintoma nos assusta muito. Será que vai doer muito? Recebia vídeos pelo WhatsApp do corona na China, mostrando pessoas caindo na rua com falta de ar. O desconhecido é um terror. Essa mensagem permanente de medo é muito agoniante”.

A temporada só foi menos dolorosa porque ela ficou em casa, com o marido e os dois filhos, por recomendação médica. Como ela só foi diagnosticada cinco dias depois de retornar do congresso em Fortaleza, o médico aconselhou-a a permanecer ficar com a família, mas com restrições e toda a cautela necessária. A Secretaria de Saúde foi à casa de Teixeira verificar se o isolamento estava correto.

“Foram 18 dias sem beijar ou abraçar meus filhos”.

Teixeira contraiu a doença numa conferência da OAB em Fortaleza, em 5 e 6 de março, a mesma em que pelo menos outros 12 advogados foram contaminados.

“Nós não tínhamos noção do que era o coronavírus, colocamos três mil pessoas na conferência. Agora essa foto é pavarosa. Você vê e sente calafrio”.

Conta que não viu mal em ir ao evento porque receberia uma homenagem, e lembra que, no começo de março, não se sabia ainda no Brasil do risco que a Covid-19 representa.

E mais: se os três estivessem infectados e saíssem de casa, poderiam levar o vírus para outro lugar.

“Não beijava e nem abraçava ninguém. Convivemos, só não nos tocamos. O certo, meu médico explico, era isolar todo mundo. Os quatro ficamos em totalmente isolados”, explicou.

A rotina de advogada por pouco não foi prejudicada. Teixeira tinha um processo na pauta de um tribunal em Brasília, pediu o adiamento, mas, antes de ser atendida, a sessão foi cancelada.

“Havia o risco de ir ao tribunal e contaminar alguém lá. Jamais poderia ir”, explicou.

A advogada defende que todos mantenham o isolamento total, conforme os principais infectologistas do mundo prescrevem.

“Só quando a cura veio percebi que ninguém precisa ficar tão desesperado. Mas o discurso anti-isolamento é uma fala muito equivocada, irresponsável”.

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