PSL E ALIADOS DIVIDIDOS COM A CRISE EM TORNO DE FLÁVIO BOLSONARO
Foi necessário menos de um mês de mandato para que a unidade da direita em torno do governo Bolsonaro fosse colocada à prova. Sob a promessa de uma gestão transparente, os acontecimentos dos últimos dias levaram a base de apoio a discussões e desentendimentos internos sobre defender Flávio Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro e senador eleito pelo PSL, ou abandoná-lo.
As movimentações suspeitas na conta do ex-assessor dele Fabrício de Queiroz, reveladas por relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), e as suspeitas de ligações com milícias estouraram a crise. Na quarta-feira (23), o presidente Jair Bolsonaro afirmou para a agência de notícias Bloomberg, em Davos, na Suíça, que, se Flávio errou, ele terá de arcar com as consequências. “Se, por acaso, ele errou e isso ficar provado, eu lamento como pai, mas ele vai ter de pagar o preço por essas ações que não podemos aceitar”, afirmou.
Além do pai, políticos e simpatizantes da direita comentaram o caso, gerando incertezas e divisões entre membros da base aliada do governo. Joice Hasselmann, do PSL, publicou na sexta-feira um vídeo nas redes sociais defendendo Flávio, mas pediu que as investigações seguissem o mais rápido possível. “Até que se prove o contrário, eu confio na palavra do Flávio”, disse.
Já Kim Kataguiri, líder do Movimento Brasil Livre (MBL), publicou, no sábado, um vídeo no YouTube afirmando que a situação de Flávio Bolsonaro é “indefensável” e que atrapalha o governo Bolsonaro.
Outros parlamentares do partido, como Alexandre Frota, preferiram não se manifestar. O deputado compartilhou na segunda-feira uma reportagem de O Globo com a legenda “Leiam e se informem. Conhecimento é nossa maior arma contra falsos argumentos; Coaf: saiba o que é e como funciona o Conselho de Controle de Atividades Financeiras criado em 1998…”.
Recentemente, Frota foi atacado em um vídeo do guru do governo, Olavo de Carvalho, que criticou a recente visita de alguns parlamentares do PSL à China e os chamou de “idiotas, caipiras e desinformados”. Em resposta, o deputado afirmou que os negócios comerciais com o país são inevitáveis e que “os alunos de Olavo são falsos moralistas que estão jogando a direita contra a direita”.
De acordo com o professor de Direito da Fundação Getulio Vargas Michael Mohallem, uma das explicações para os embates na direita é a falta de vivência organizacional. “Essa direita acabou de nascer. A maioria dos membros do PSL, que é a casa da maioria dos novos deputados, jamais conviveu com outros parlamentares. São pessoas de fora da política, que vieram de outras carreiras e que não têm nenhum traquejo, seja da política em si, seja dessa vida partidária”, explicou.
Para o professor, vários partidos formam a base de apoio do governo, mas, em geral, espera-se que o partido do presidente tenha absoluta coesão e coerência com as ações governamentais. Mohallem acredita que o PSL passa uma impressão de ambiente em disputa. “Se não é possível esperar do PSL coesão e alinhamento, também não é possível esperar o mesmo dos outros partidos. Isso enfraquece o momento de cobrar fidelidade e alinhamento com a base do governo.”
Além disso, Mohallem afirma que há dois desdobramentos que poderiam levar a casos mais sérios e respingar, até mesmo, em Jair Bolsonaro. O primeiro é que, se a investigação demonstrar um elo mais profundo com o presidente, poderia haver um enfraquecimento e uma quebra com a base. O segundo, seria a confirmação do elo com as milícias. “Muitas vezes, uma frustração política é superada com outra novidade. Bolsonaro representou, de fato, essa novidade ao romper com o PT. Como há uma expectativa de mudança muito grande, especialmente no Congresso, esse caso do Flávio pode se amortecer apenas no campo da frustração, a não ser que a situação se agrave”, comentou o professor.
Ainda é cedo para saber os rumos do novo governo. “O PSL era um partido que tinha por volta de cinco pessoas. Agora tem 50. Eles precisam conviver, fazer reuniões, entender e respeitar suas diferenças. É cedo para prever um caminho”, disse Mohallem. “Estamos chegando ao terceiro escalão e temos muita gente despreparada em certas áreas, sem histórico e experiência específica. Agora é a hora de encontrar rumos dentro do próprio partido.”
Além de lideranças políticas, o assunto repercutiu de maneira geral nas redes sociais. O Trend Topic mais comentado na quarta-feira no Twitter foi #FlavioBolsonaroNaCadeia, com 116 mil menções. A hashtag #FlavioPresidente, a favor do parlamentar, contabilizou