PSL E ALIADOS DIVIDIDOS COM A CRISE EM TORNO DE FLÁVIO BOLSONARO

PSL E ALIADOS DIVIDIDOS COM A CRISE EM TORNO DE FLÁVIO BOLSONARO

“Essa direita acabou de nascer. A maioria dos membros do PSL jamais conviveu com outros parlamentares. São pessoas de fora da política”, diz professor sobre os desentendimentos na base do governo
Flavio Bolsonaro, em setembro de 2018 Foto: Daniel Marenco / Agência O Globo
Flavio Bolsonaro, em setembro de 2018 Foto: Daniel Marenco / Agência O Globo

Foi necessário menos de um mês de mandato para que a unidade da direita em torno do governo Bolsonaro fosse colocada à prova. Sob a promessa de uma gestão transparente, os acontecimentos dos últimos dias levaram a base de apoio a discussões e desentendimentos internos sobre defender Flávio Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro e senador eleito pelo PSL, ou abandoná-lo.

As movimentações suspeitas na conta do ex-assessor dele Fabrício de Queiroz, reveladas por relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), e as suspeitas de ligações com milícias estouraram a crise. Na quarta-feira (23), o presidente Jair Bolsonaro afirmou para a agência de notícias Bloomberg, em Davos, na Suíça, que, se Flávio errou, ele terá de arcar com as consequências. “Se, por acaso, ele errou e isso ficar provado, eu lamento como pai, mas ele vai ter de pagar o preço por essas ações que não podemos aceitar”, afirmou.

Além do pai, políticos e simpatizantes da direita comentaram o caso, gerando incertezas e divisões entre membros da base aliada do governo. Joice Hasselmann, do PSL, publicou na sexta-feira um vídeo nas redes sociais defendendo Flávio, mas pediu que as investigações seguissem o mais rápido possível. “Até que se prove o contrário, eu confio na palavra do Flávio”, disse.

Já Kim Kataguiri, líder do Movimento Brasil Livre (MBL), publicou, no sábado, um vídeo no YouTube afirmando que a situação de Flávio Bolsonaro é “indefensável” e que atrapalha o governo Bolsonaro.

Outros parlamentares do partido, como Alexandre Frota, preferiram não se manifestar. O deputado compartilhou na segunda-feira uma reportagem de O Globo com a legenda “Leiam e se informem. Conhecimento é nossa maior arma contra falsos argumentos; Coaf: saiba o que é e como funciona o Conselho de Controle de Atividades Financeiras criado em 1998…”.

Recentemente, Frota foi atacado em um vídeo do guru do governo, Olavo de Carvalho, que criticou a recente visita de alguns parlamentares do PSL à China e os chamou de “idiotas, caipiras e desinformados”. Em resposta, o deputado afirmou que os negócios comerciais com o país são inevitáveis e que “os alunos de Olavo são falsos moralistas que estão jogando a direita contra a direita”.

De acordo com o professor de Direito da Fundação Getulio Vargas Michael Mohallem, uma das explicações para os embates na direita é a falta de vivência organizacional. “Essa direita acabou de nascer. A maioria dos membros do PSL, que é a casa da maioria dos novos deputados, jamais conviveu com outros parlamentares. São pessoas de fora da política, que vieram de outras carreiras e que não têm nenhum traquejo, seja da política em si, seja dessa vida partidária”, explicou.

Para o professor, vários partidos formam a base de apoio do governo, mas, em geral, espera-se que o partido do presidente tenha absoluta coesão e coerência com as ações governamentais. Mohallem acredita que o PSL passa uma impressão de ambiente em disputa. “Se não é possível esperar do PSL coesão e alinhamento, também não é possível esperar o mesmo dos outros partidos. Isso enfraquece o momento de cobrar fidelidade e alinhamento com a base do governo.”

Além disso, Mohallem afirma que há dois desdobramentos que poderiam levar a casos mais sérios e respingar, até mesmo, em Jair Bolsonaro. O primeiro é que, se a investigação demonstrar um elo mais profundo com o presidente, poderia haver um enfraquecimento e uma quebra com a base. O segundo, seria a confirmação do elo com as milícias. “Muitas vezes, uma frustração política é superada com outra novidade. Bolsonaro representou, de fato, essa novidade ao romper com o PT. Como há uma expectativa de mudança muito grande, especialmente no Congresso, esse caso do Flávio pode se amortecer apenas no campo da frustração, a não ser que a situação se agrave”, comentou o professor.

Ainda é cedo para saber os rumos do novo governo. “O PSL era um partido que tinha por volta de cinco pessoas. Agora tem 50. Eles precisam conviver, fazer reuniões, entender e respeitar suas diferenças. É cedo para prever um caminho”, disse Mohallem. “Estamos chegando ao terceiro escalão e temos muita gente despreparada em certas áreas, sem histórico e experiência específica. Agora é a hora de encontrar rumos dentro do próprio partido.”

Além de lideranças políticas, o assunto repercutiu de maneira geral nas redes sociais. O Trend Topic mais comentado na quarta-feira no Twitter foi #FlavioBolsonaroNaCadeia, com 116 mil menções. A hashtag #FlavioPresidente, a favor do parlamentar, contabilizou

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