Quase 3 dias depois, Witzel se esquiva de assassinato de criança  A ÁGATHA

Quase 3 dias depois, Witzel se esquiva de assassinato de criança
 Por Vera Magalhães

Governador culpa adversários e usuários de drogas por morte da menina Ágatha, de 8 anos, enquanto celebra sua política de segurança

Quebrando o silêncio. Demorou mais de 60 horas a primeira manifestação do governador do Rio, Wilson Witzel, sobre o assassinato da menina Ágatha Félix, de 8 anos, na última sexta-feira. Ela foi alvejada por um tiro de fuzil nas costas quando voltava da escola com a mãe numa van. Familiares e moradores que testemunharam a ação dizem que o tiro partiu de um policial, que teria mirado numa moto e atingido a menina.

Sucesso? Witzel evitou responsabilizar a polícia e negou relação entre o caso, que procurou tratar como fato isolado, e sua política de segurança. Desde a campanha ele defende o “abate” de suspeitos por meio de policiais e snipers, e têm sido comuns operações em favelas com disparos e morte de civis.

Palanques. Ele comemorou o sucesso de sua política apresentando a redução de homicídios neste ano em cerca de 20%, e preferiu criticar adversários e consumidores de drogas. Disse que quem atribui a morte de Ágatha ao seu governo usa um caixão como palanque. Como se ele próprio não tivesse feito isso ao descer de um helicóptero com os punhos cerrados quando a polícia matou o sequestrador de um ônibus, no mês passado. Também disse que quem faz uso recreativo de drogas também é responsável pelas mortes.

Debates. O caso Ágatha suscitou dois debates de fundo: sobre a proposta de ampliação do excludente de ilicitude do pacote anticrime do governo federal e sobre a descriminalização das drogas e sua eficácia para reduzir o poderio do crime organizado.

Licença para matar? No primeiro, o maior embate ocorre entre o ministro Sergio Moro (Justiça) e parlamentares, capitaneados pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Moro diz que a proposta não tem nada a ver com casos como o do Rio. Maia disse que assassinatos como o de Ágatha obrigam a que se analise com cuidado o pacote. No Congresso, a matéria já não contava com ampla simpatia, e, agora, esse item é considerado letra morta pelos deputados.

Cada um por si. A despeito de ser um defensor hstórico do excludente de ilicitude e de ações de repressão duras no combate ao crime, ainda que leve à morte de civis como “efeito colateral”, Jair Bolsonaro se calou sobre a morte em seu Estado. O silêncio parece conter o cálculo de não ficar do mesmo lado de Witzel, ex-aliado e hoje virtual adversário do bolsonarismo.

Em outra. Além disso, os esforços do governo federal estão voltados para a abertura da Assembleia-Geral da ONU, na manhã desta terça-feira, 24. O esforço do governo de fazer um discurso técnico e conciliatório para Bolsonaro, de que tratamos em textos anteriores do BRPolítico, esbarra na natureza belicosa do entorno presidencial: o filho e candidato a embaixador Eduardo Bolsonaro usou o Twitter para responder a novas críticas da alta comissária da ONU para Direitos Humanos, Michelle Bachelet, recomendando que devolva o “dinheiro roubado”, numa referência a uma menção ainda não apurada feita a ela na delação de Leo Pinheiro, ex-presidente da empreiteira OAS.

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