Trump consultou Bolsonaro sobre experiência do Brasil com cloroquina

Trump consultou Bolsonaro sobre
experiência do Brasil com cloroquina
Indicado para a embaixada brasileira nos EUA, Nestor Forster disse que americano
ofereceu ajuda
9.abr.2020 às 19h16
WASHINGTON
Marina Dias
O presidente dos EUA, Donald Trump, consultou Jair Bolsonaro
sobre a experiência do Brasil no uso da cloroquina para o tratamento de
pacientes com Covid-19.
Segundo o indicado à embaixada brasileira em Washington, Nestor Forster, o
americano quis saber mais sobre a administração do medicamento durante
conversa com Bolsonaro por telefone na quarta-feira (1º).
10/04/2020 Trump consultou Bolsonaro sobre experiência do Brasil com cloroquina – 09/04/2020 – Mundo – Folha
https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2020/04/trump-consultou-bolsonaro-sobre-experiencia-do-brasil-com-cloroquina.shtml 2/5
“O principal objetivo do telefonema de Bolsonaro a Trump era colaboração para
o combate à pandemia, o que podia ser feito [pelos dois países]. Trump reiterou
a oferta de colaborar com o Brasil da forma que precisarmos, e Bolsonaro se
colocou à disposição dos EUA”, disse Forster à Folha.
“Havia muito interesse de Trump pela experiência que o Brasil tem no uso de
cloroquina, agora com foco no tratamento da Covid-19.”
A cloroquina —ou sua variante, a hidroxicloroquina— é prescrita para o
tratamento de malária, lúpus e artrite reumatoide, mas tem sido testada no
combate à infecção por coronavírus, porém, ainda sem nenhuma prova científica
robusta de sua eficácia nesses casos.
O presidente dos EUA, Donald Trump, cumprimenta Jair Bolsonaro antes de jantar em
Mar-a-Lago, na Flórida – Tom Brenner – 7.mar.20/Reuters
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Apesar disso, Trump e Bolsonaro são defensores fervorosos do uso da
substância contra as infecções por coronavírus e, no Brasil, o debate ganhou
contornos políticos mais fortes nas últimas semanas, dividindo aliados e
adversários do presidente.
Nos EUA, o medicamento tem sido utilizado em vários hospitais, principalmente
em Nova York —o pior cenário sob a pandemia no país. Médicos afirmam que a
prescrição é feita caso a caso, com aval do paciente, que deve ser comunicado
sobre os prós e contras do remédio.
No mês passado, a agência americana reguladora para medicamentos e
alimentos (FDA, na sigla em inglês) emitiu uma solicitação de emergência
permitindo que médicos administrassem a substância a pacientes de Covid-19
que o desejassem, mas não especificou em quais casos, como fez o Brasil.
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O Ministério da Saúde brasileiro recomenda o uso do remédio a pacientes
internados em estado grave.
Forster foi um dos infectados por coronavírus após a visita de Bolsonaro a
Miami, no início de março, mas disse que seus sintomas, entre febre, fadiga e
congestão nasal, não foram fortes e que não precisou de medicamentos. “Fiquei
doente de 13 a 21 de março. Ainda estavam começando as discussões sobre
cloroquina, não precisei pensar nisso.”
O diplomata, que aguarda aprovação de seu nome ao cargo pelo plenário do
Senado, disse que o governo americano fez uma oferta formal de ajuda a Brasília
no combate à pandemia, mas nenhuma ação concreta foi estabelecida por
enquanto.
Forster refutou que haja qualquer tentativa de os EUA confiscarem
carregamentos de equipamentos e insumos médicos destinados ao Brasil e disse
que não viu nenhum caso em que o país tenha sido prejudicado por ação dos
americanos. “Pelo contrário, está tudo bem.”
Os governadores do Maranhão, Flávio Dino, e da Bahia, Rui Costa, acusaram os
EUA de terem confiscado equipamentos médicos que iriam para o Nordeste.
Forster afirma que a embaixada brasileira em Washington foi acionada pelo
governo baiano, mas que, após apuração do corpo diplomático, foi atestado que
não havia confisco.
“Existe a faculdade de o presidente americano recorrer à Lei de Defesa da
Produção, que é da época da Guerra da Coreia, para direcionar a produção para
o esforço de guerra, bens considerados essenciais para a manutenção da ordem,
da segurança nacional”, disse o diplomata.
“Não há uma proibição à exportação nem há confisco imediato, é uma
orientação para fazer o que for possível para não faltar aqui [nos EUA]. Se isso
requerer o confisco, há poderes legais para fazer isso.”
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A resposta negativa se alinha ao que afirma o embaixador dos EUA no Brasil,
Todd Chapman, que classificou o confisco de equipamentos médicos como “fake
news” e disse que muitos fornecedores estão dizendo que os carregamentos
foram bloqueados pelos EUA como desculpa para poder vendê-los mais caro a
outros clientes.
Ainda sobre a guerra de insumos que tem acometido o mundo sob a pandemia,
Forster afirmou que as restrições impostas por Trump à 3M, que produz
máscaras N95, por exemplo, não afeta o Brasil, porque a empresa tem unidade
no país.
“As máscaras que chegam ao Brasil via 3M não dependem dos EUA, visto que há
filial da firma no estado de São Paulo, e essa unidade abastece não só o mercado
brasileiro como outros países latino-americanos.”
Na semana passada, ao invocar a Lei de Defesa da Produção, Trump proibiu a
3M de exportar os itens para o Canadá e países da América Latina. A 3M, por
sua vez, protestou, afirmando que isso teria “consequências humanitárias
significativas.”
A Casa Branca e a 3M então chegaram a um acordo no domingo (5), com uma
importação de máscaras da China para suprir o mercado interno, e liberação da
empresa para mandar os insumos para o Canadá e para países da América
Latina.
Forster diz que os produtos que saem da 3M nos EUA são “uma
complementação” no caso do Brasil —visto que as máscaras são produzidas na
sede de São Paulo— e que o acordo resolveu essa questão.
A avaliação do diplomata, que sempre defendeu a ideia de que a relação entre
Brasil e EUA está em “uma fase excepcional”, é de que é preciso manter as
conversas entre os governo para que a interlocução não esfrie durante a
pandemia

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