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QUEM É FABIO SCHVARTSMAN, PRESIDENTE DA VALE QUE PODE SER AFASTADO PELO GOVERNO

Considerado um executivo discreto e incisivo nos negócios, Schvartsman comanda a mineradora no centro do desastre de Brumadinho
Fabio Schvartsman, presidente da Vale, fala sobre tragédia em Brumadinho Foto: Guito Moreto / Agência O Globo
Fabio Schvartsman, presidente da Vale, fala sobre tragédia em Brumadinho Foto: Guito Moreto / Agência O Globo

Considerado um executivo discreto, avesso a sair em colunas sociais e a dar entrevistas, o presidente da mineradora Vale, Fabio Schvartsman, enfrentou seu maior desafio na semana passada: cinco horas depois da barragem de Brumadinho romper, na última sexta-feira, ele estava diante de uma dezena de jornalistas sem respostas para explicar a tragédia que tinha acabado de acontecer.

Tido como um profissional sem meias palavras, incisivo nos negócios e, por isso mesmo, considerado por muitos como arrogante, Schvartsman estava abatido na coletiva e precisou ler as medidas que a Vale havia tomado recentemente para que o desastre de Mariana não se repetisse. Disse, consternado, que desta vez a tragédia humana superaria os danos ambientais. Há quase dois anos, em março de 2017, Schvartsman assumiu a presidência da maior mineradora do mundo com o lema: “Nunca Mais Mariana”.

No mesmo dia do desastre, o executivo se deslocou para Brumadinho e, já na manhã de sábado, acompanhou o trabalho das equipes de resgate na busca das vítimas. Seu comportamento destoou do então presidente da Vale, Murilo Ferreira, que só se pronunciou oficialmente sobre o rompimento da barragem de Mariana seis dias depois da tragédia. À época, a Vale foi criticada pela demora em falar oficialmente sobre o acidente, além de transferir a responsabilidade para a Samarco, empresa da qual é sócia junto com a BHP, uma mineradora anglo-australiana. Desta vez, foi diferente.

“A postura dele foi a de não se esconder nem amenizar o tamanho do problema. Mas em termos de gestão e governança há muito o que explicar, principalmente com dois eventos semelhantes em tão pouco tempo”, disse Luiz Marcatti, especialista em governança corporativa da consultoria Mesa Corporate Governance

Schvartsman é considerado no mercado um dos mais experientes executivos brasileiros. Engenheiro formado pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), tem mais de 40 anos de carreira em empresas importantes. Na mineração, entretanto, a Vale era sua primeira experiência. Na Klabin, de papel e celulose, o executivo foi o responsável pelo projeto Puma, que ergueu a maior e mais competitiva fábrica de celulose do mundo, num investimento de mais de R$ 8 bilhões. O planejamento e a execução desse projeto são considerados um dos pontos altos da trajetória de Schvartsman no mundo corporativo, lembrou um executivo do setor de papel e celulose, que acompanhou o projeto Puma.

“A Klabin subiu de patamar com a execução desse projeto, que foi uma obsessão do Fabio. Com ele, a Klabin dobrou sua capacidade de produção e ganhou musculatura no mercado internacional”, afirmou o executivo, que destaca a capacidade de liderança de Schvartsman e sua habilidade com finanças.

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Exatamente por isso, no Grupo Ultra, Schvartsman chegou ao posto de diretor financeiro e seu nome estava entre os que poderiam assumir a presidência da companhia. Ele, no entanto, foi preterido pelo presidente do Conselho de Administração, Paulo Cunha, e o escolhido acabou sendo Pedro Wongtschowski, que vinha da Oxiteno, companhia que atua no setor químico. Frustrado, Schvartsman deixou a empresa e foi para a Klabin. Em seu currículo, constam ainda passagens pelos Conselhos de Administração do Pão de Açúcar, Gafisa, Contax e Hospital Albert Einstein.

Entre alguns analistas, Fabio Schvartsman é comparado ao executivo Roger Agnelli, que presidiu a Vale durante dez anos. Agnelli, que fez carreira no Bradesco e consolidou a Vale como a maior produtora global de minério de ferro, era considerado um “homem de mercado”, que pautava sua atuação pelos interesses da empresa e não do governo. Schvartsman também tem esse perfil, segundo avaliação dos analistas.

“Schvartsman transformou a Vale de um monstro consumidor de caixa em uma proposta de investimento de crescimento racional e focada nos investimentos”, escreveu Paul Gait, analista da Bernstein Research, em um de seus recentes relatórios, afirmando ainda que a companhia deixou de se comportar como uma estatal na atual gestão e ganhou status de grande mineradora, como a Rio Tinto e a BHP.

Sob a batuta de Schvartsman, a dívida da Vale caiu de mais de US$ 23 bilhões para cerca de US$ 10 bilhões. No ano passado, a mineradora anunciou dividendos de R$ 7,7 bilhões a seus acionistas e programa de recompra de ações de R$ 1 bilhão, mostrando confiança da empresa em seu próprio desempenho. A analista da XP Investimentos, Karel Luketic, afirmou à época que a mineradora estava entrando no maior ciclo de dividendos de sua história, que poderia durar anos.

O desastre de Brumadinho deverá mudar esse prognóstico e os planos de Schvartsman. Entre eles, a Vale deverá adiar seus projetos de cobre e níquel, estratégia que estava na pauta para fugir da desaceleração da economia chinesa, principal comprador do minério de ferro da Vale. Após o acidente, a companhia também anunciou que não pagará dividendos a seus acionistas e que os principais executivos, incluindo Schvartsman, ficarão sem os bônus.

Nesta segunda-feira, o presidente da República em exercício, Hamilton Mourão, afirmou que o eventual afastamento da diretoria da Vale durante a investigação da responsabilidade pelo rompimento da barragem está sendo estudado pelo grupo de crise constituído pelo governo. No final do ano passado, Schvartsman tinha estendido seu contrato com a Vale até 2021.

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