, Bancada do PSL é mais jovem, militar e empresária que a dos demais partidos

Bancada do PSL é mais jovem, militar e empresária que a dos demais partidos

Composição do partido de Jair Bolsonaro na Câmara e no Senado revela ampla maioria de homens (83%) e de brancos (72%) – é quase tão desigual quanto a média das outras legendas, que têm 85% e 75%, respectivamente

Texto e dados: Rodrigo Menegat / Infografia: Bruno Ponceano

12 Outubro 2018 | 23h00

Com 52 deputados e quatro senadores eleitos, o PSL tomou o Congresso de súbito: até setembro, sua bancada se resumia a oito membros na Câmara. Mas quem são esses parlamentares que devem assumir cargo na nova legislatura?

Considerado um partido nanico até a divulgação dos resultados eleitorais deste domingo (7), o grupo que abriga a candidatura de Jair Bolsonaro ao Planalto tornou-se a segunda maior bancada da Câmara dos Deputados e elegeu seus primeiros representantes no Senado.

A maior parte dos candidatos da legenda embarcou na popularidade e no discurso do capitão do Exército que tenta chegar à Presidência. Não faltam nomes de urna que ostentam títulos como “Major” , “Delegado” ou “Coronel” – até “General”.

A proximidade com o meio militar é a característica mais óbvia desse movimento político, mas há outros aspectos em que o PSL difere do restante do Congresso. Para descobrir peculiaridades do grupo, o Estado comparou quem foi eleito pela sigla com os parlamentares eleitos por outros partidos.

onda bolsonarista é diferente do restante do Congresso em relação à idade, patrimônio e origem geográfica. Entretanto, o partido se parece com os outros em termos de raça e gênero.

Confira a análise completa:

DISTRIBUIÇÃO DE CANDIDATOS POR ESTADO

EM % DE ELEITOS

Os candidatos eleitos pelo PSL se concentram nas regiões Sul e Sudeste, com destaque para os Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Santa Catarina.

Em contraste, o desempenho fraco de Jair Bolsonaro no Nordeste, única região em que o candidato a presidente pela legenda teve menos votos que Fernando Haddad (PT), se repetiu também na disputa legislativa. Seu partido não conseguiu uma bancada forte por lá.

IDADE

bancada do partido é, majoritariamente, mais jovem que o restante do Congresso. Enquanto as outras siglas têm a maioria dos parlamentares acima dos 50 anos, o PSL concentra políticos abaixo dos 40.

PATRIMÔNIO DECLARADO

EM MILHÕES DE REAIS

Além de mais jovem, a bancada da legenda de Bolsonaro é também menos rica que o restante do parlamento. O parlamentar mediano do PSL declarou ter bens que somam R$ 700 mil. Nos demais partidos, esse valor é R$ 1 milhão.

Outra diferença é que 43% dos eleitos pelo PSL declararam patrimônio avaliado em mais de R$ 1 milhão, taxa menor que os 50% de milionários registrados nos demais partidos.

PROFISSÃO

EM % DE ELEITOS

Apesar do grande número de militares, essa não é a profissão mais comum entre os congressistas eleitos pela sigla. Na verdade, os empresários são a maioria. Profissionais ligados ao agronegócio também são mais comuns no partido do que no resto do Congresso. Outro fator que chama a atenção é a quantidade de parlamentares do PSL que declaram ser políticos de ofício: é menor que nas demais legendas.

COR, RAÇA E GÊNERO

EM % DE ELEITOS

Entre os 52 deputados e 4 senadores do PSL, 82% são homens e 71%, brancos. Os demais grupos políticos somados terão 84% de homens e 74% de brancos. Ou seja, os bolsonaristas têm presença levemente maior de negros e de mulheres, se comparados às outras legendas. Neste caso, contudo, a diferença de 2 pontos porcentuais é estatisticamente irrelevante.

Especialistas acreditam que a composição da bancada do PSL não tem necessariamente relação com as propostas de seus eleitos. Joice Hasselmann, deputada federal mais votada nas eleições, por exemplo, não pretende encampar nenhuma pauta feminista.


SEM IDEOLOGIA

Sigla dá espaço a descontentes, dizem analistas

Marianna Holanda

Na carona da popularidade do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), candidatos de sua sigla transformaram um partido considerado nanico até o domingo da eleição na segunda maior bancada da Câmara, com 52 deputados. No Senado, a sigla estreia já com 4 assentos. Na avaliação de analistas, o PSL abriu as portas para setores da sociedade que estavam descontentes e almejavam maior representatividade, sem necessariamente ter uma identidade ideológica definida.

“Essa eleição revela o desejo de segmentos da população de renovar a composição do Congresso. Eles encontraram um canal no PSL e na proposta de Bolsonaro, por fazerem uma crítica muito séria contra os outros partidos e o modo tradicional de fazer política”, avalia o cientista político da USP José álvaro Moisés. O analista considera “evidente” que a bancada faz parte de uma onda conservadora, mas, em sua opinião, “isso não quer dizer que não seja também uma renovação”.

NOVOS NO CONGRESSO

EM % DE ELEITOS

Para Moisés, o fato de Bolsonaro ser um capitão reformado que elogia as Forças Armadas deu alternativa a certos grupos descontentes. Os militares, afastados da disputa de poder político desde a redemocratiza̧ão, encontraram no PSL um canal para viabilizar sua participação. Empresários também.

Joyce Luz, cientista política e professora da Fundação Escola de Sociologia (FESP), segue linha semelhante para explicar o perfil dos bolsonaristas. “Renovação, neste sentido, é aquilo que não tem nada a ver com a política anterior. O PSL parece ter aberto as portas para esses candidatos”, afirma.

Diversidade. Para os analistas ouvidos pelo Estado, o fato de a diversidade do perfil dos bolsonaristas estar praticamente na mesma proporção que nos demais partidos é uma casualidade. A professora da FESP não vê relação entre o perfil dos eleitos e as prioridades do eleitorado nesta disputa. Joice Hasselmann, a deputada federal mais votada do País, por exemplo, não explorou o fato de ser mulher em sua campanha.

“é difícil pensar que o eleitor que escolheu os candidatos do PSL tenha pesado que eram mulheres, negros, pardos, etc. Não que sejam racistas, machistas, essas coisas. Mas talvez esse fator não seja decisivo para o voto”, argumenta a professora da FESP. O discurso fortemente militarizado, de privilégio da segurança, provavelmente é a principal bandeira deles, complementou José álvaro Moisés. Os militares são 25% dos deputados federais da legenda.

O fato de mulheres e negros terem sido eleitos no partido de um candidato que ofendeu negros e mulheres não significa que os interesses desses segmentos estarão representados no Congresso. A análise é do professor de ciência política da USP Glauco Peres. Para ele, é preciso observar se os parlamentares terão espaço de liderança nas bancadas e no partido, entre outros elementos.

Uma hipótese para o patamar ter sido, mais ou menos, o mesmo na eleição de mulheres pode ser atribuída à cota estabelecida neste ano pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), de reserva de 30% de recursos do fundo eleitoral e do tempo de rádio e TV. “O fato de ter uma legislação que proporciona espaço para que as mulheres fossem votadas, de algum jeito, pode ter levado a uma maior representação das mulheres”, afirma Glauco.

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