Mais uma jovem afirma ter sido mantida em cárcere por seita do DF

Mais uma jovem afirma ter sido mantida em cárcere por seita do DF

Vítimas moravam com familiares na chácara que pertence ao grupo religioso e eram acusadas de estarem “possuídas pelo demônio” quando decidiam deixar o local


Mais um caso de cárcere privado ligado à Igreja Adventista Remanescente de Laodicéia é investigado pela Polícia Civil. O lugar ficou conhecido nesta semana, depois que o delegado Vander Braga, da 20ª Delegacia de Polícia (Gama), divulgou informações sobre o resgate de uma jovem de 18 anos em 28 de dezembro. Ela teria passado quatro meses presa na chácara-sede da seita, no Gama. A garota, no entanto, não teria sido a única a viver o drama. Dias antes, uma moça de 19 anos também foi salva — desta vez, pelo pai, o aposentado Ronaldo Soares, 50. Agora, ele busca meios legais para reparar os danos causados à filha.

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A jovem morava na chácara com avós, tios, primos e com a mãe, que havia deixado o local em julho do ano passado. No início de dezembro, o mineiro recebeu uma mensagem da filha pedindo socorro. Ela passou três semanas trancada na residência da fundadora da igreja, Ana Vindoura Dias da Luz, que também mora na chácara. A garota foi impedida de deixar a seita quando disse que iria mudar-se para a casa do pai, em Várzea da Palma (MG), a cerca de 600km do DF.

Ronaldo conta que, assim que recebeu a mensagem, fez uma denúncia junto à Polícia Civil de Minas Gerais e à Procuradoria-Geral do Estado. Após a pressão sobre os integrantes da igreja, eles entregaram a garota ao pai no dia seguinte.

Por telefone, o Correio conversou com a vítima, que preferiu não se identificar. Segundo ela, a casa ficava com as portas sempre trancadas. Lá, chegou a conviver com a jovem de 18 anos resgatada pelos agentes da 20ª DP. Em poucas palavras, a vítima relatou que as duas tornaram-se amigas e que ouviu histórias de que a companheira estaria “endemoniada”, mas admitiu não entender muito do assunto.
Em alguns momentos, ela também foi alvo das acusações. “De certa forma, acredito (que esteja endemoniada), pois algumas atitudes minhas e pensamentos são diferentes”, comentou a moça. Ela, no entanto, não conseguiu explicar quais seriam os comportamentos que fizeram a líder religiosa declarar a possessão. Mesmo sem pretender retornar à chácara, a jovem diz que não sente raiva, mas saudades da comunidade. “Agora, quero trabalhar”, resumiu. 

Contato restrito

Há cinco anos, durante um almoço, a esposa de Ronaldo contou pela primeira vez sobre a existência da Igreja Adventista Remanescente de Laodicéia ao marido. Inicialmente, o aposentado não levou a sério a vontade da esposa e da filha largarem tudo para morar em uma das chácaras da seita, em Corumbá (GO). Contudo, ele se surpreendeu quando viu as duas partirem. “À época, eu estava tirando carteira de motorista. Saí para solicitar o documento e, quando cheguei, elas tinham sumido. Sem mais nem menos”, detalhou.
A partir de então, o contato passou a ser restrito. “Eu mandava mensagem de bom-dia e ela (a filha) não respondia. Até fiquei chateado, mas não sabia que tinham tomado o telefone dela”, desabafou. Segundo ele, antes de entrar para o grupo, a jovem era alegre e gostava de conversar. Agora, está diferente e traumatizada. “Quando ela chegou, estava com marcas no braço. Pedi para contar quem as fez, mas ela não quis falar”, contou Ronaldo, que está à procura de um psicólogo para a filha e pretende entrar com um processo judicial contra a igreja.
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