PF acha em sistema da Odebrecht R$ 700 mil em propina atribuída ao sítio de Atibaia

Ana Carla Bermúdez e Bernardo Barbosa

Do UOL, em São Paulo

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  • 5.fev.2016 – Jorge Araujo/Folhapress

A Polícia Federal apresentou à Justiça nesta quarta-feira (16) laudo pericial em que diz ter encontrado, nos sistemas usados pela Odebrecht para gerenciar o pagamento de propinas, uma planilha que supostamente registra gastos da empreiteira com reformas no sítio em Atibaia (SP) usado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Em novembro de 2017, o engenheiro e um dos 77 delatores da Odebrecht, Emyr Diniz Costa Junior, entregou ao MPF (Ministério Público Federal) uma planilha de pagamentos do departamento de propinas da empreiteira no valor de R$ 700 mil para custear as reformas no imóvel. Essa contabilidade foi localizada pela perícia da PF nas contas de propina da empresa. No documento enviado à Justiça, entretanto, os peritos da PF afirmam não ter encontrado no sistema nenhuma menção explícita aos termos “Atibaia”, “Sítio” e “Santa Bárbara”.

Assim como Lula, Emyr também é réu no processo. O laudo foi anexado ao processo da Operação Lava Jato que investiga se o ex-presidente foi o beneficiário de reformas no sítio. Lula é acusado de ter recebido propina de R$ 1,02 milhão de Odebrecht, OAS e Schahin por meio de obras feitas no imóvel de Atibaia.

Segundo a PF, quatro entradas de recursos que somam R$ 700 mil tiveram como origem um “caixa único”, abastecido por dinheiro de caixa 2 oriundos de diversas obras, inclusive do projeto Aquapolo e da Petrobras, tanto no Brasil como no exterior.

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Ainda de acordo com os peritos, o valor tem como origem a obra “UO011203 – AQUAPOLO” –a mesma origem que aparece na planilha entregue por Emyr. A afirmação foi feita em resposta a uma demanda da defesa de Lula, que solicitou saber se havia lançamentos referentes à obra Aquapolo no sistema e que demonstrariam o consumo desse valor.

Além da contabilidade indicada por Emyr, a perícia encontrou outras planilhas que mostram uma série de lançamentos contábeis associados ao valor de R$ 700 mil, inclusive com indicação de que o dinheiro foi entregue a pessoas identificadas como “Marcia” e “MG”. Os peritos não confirmam, no entanto, quem seria o beneficiário desse valor.

Segundo a denúncia do MPF, a vantagem indevida seria oriunda da participação da Odebrecht, OAS e Schahin no esquema de corrupção na Petrobras desvendado pela Lava Jato. O MPF também afirma que Lula comandava tal esquema e se beneficiava do mesmo “não só para enriquecimento ilícito, mas especialmente para alcançar governabilidade com base em práticas corruptas e perpetuação criminosa no poder”.

A defesa do ex-presidente já afirmou que Lula nunca recebeu ou solicitou qualquer benefício, favorecimento ou vantagem indevida de qualquer empresa. Procurada pelo UOL nesta quarta, a defesa de Lula ainda não se manifestou.

A PF diz ter analisado 11 discos rígidos e dois pendrives que contêm os dados dos sistemas Drousys e MyWebDay, utilizados pelo Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, que era responsável por administrar o pagamento de propinas da empreiteira. Segundo o laudo pericial, foram analisados mais de 1,9 milhão de arquivos, sendo que 842 deles apresentaram algum tipo de inconformidade –99,9% dos arquivos, portanto, é autêntico.

O laudo aponta ainda que há, nas planilhas encontradas, a indicação de senhas como “Natalino” para a entrega do dinheiro.

Os peritos da PF afirmam ainda que os documentos entregues por Emyr são “íntegros” e “autênticos”. Ainda de acordo com os peritos, não foram encontradas informações “que pudessem conter o nome da pessoa, máquina, endereço IP, data e horário” dos lançamentos contábeis realizados nos sistemas de propina.

Procurada pelo UOL, a Odebrecht afirmou em nota que está colaborando com a Justiça no Brasil e nos países em que atua. A empreiteira também diz que “implantou um sistema para prevenir, detectar e punir desvios ou crimes” e que valoriza “a ética, a integridade e a transparência”.