OS FALSOS PROFETAS-O FALSO TEMPLO DE SALOMÃO- EDIR MACEDO & CIA

‘Vai beijar na boca!’: cristãos frequentam escolas de amor e relacionamento

O casal Renato e Cristiane Cardoso - Reprodução/ Igreja Universal

O casal Renato e Cristiane CardosoImagem: Reprodução/ Igreja Universal

João Diniz

Colaboração para o TAB

12/03/2021 04h00

No Templo de Salomão, toda quinta-feira, às 10h, às 15h e às 20h, dezenas de pessoas aparecem para receber conselhos amorosos cristãos. Não importa se são casados, viúvos, divorciados ou solteiros, evangélicos ou não, a Terapia do Amor, como é chamado o encontro, acolhe a todos aqueles que “estejam enfrentando momentos difíceis no relacionamento ou simplesmente queiram aprender mais sobre essa área tão importante da vida”, como explica o aviso no site da igreja Universal.

O público é grande. Tão grande que, de palestra, a terapia virou programa de TV e podcast — com mais de 1900 episódios do tipo tira-dúvida.

“O senhor não se esquece dos seus filhos, daqueles que o senhor gerou”, dizia o pastor Renato Cardoso, na abertura da última palestra de 11 de fevereiro. Algumas pessoas na plateia concordavam, gesticulando com a cabeça. “E aqui, agora, diante do teu altar, oramos por todos aqueles que têm sido esquecidos, rejeitados, desprezados com o pior tipo de desprezo que existe, que é o desprezo da parte de quem a gente ama”, completava.

A oração a Deus era um pedido pelo “homem que tem sido desprezado pela mulher que ama” e pela “mulher que se sente como um objeto, como uma qualquer, a última das criaturas, que se sente feia e inferior, que se sente invisível”. Diante dos fiéis que o acompanhavam em prece, o pastor afirmava: “Que este ano ainda, senhor, muito em breve, essa pessoa possa olhar para trás e dizer: ‘O senhor lembrou de mim’.”

O encontro semanal é uma espécie de palestra. Começa com a oração e depois segue com depoimentos de casais. Dali vem o tema da noite, que naquela quinta-feira era um exclamativo “Pare de procurar um culpado!”. Era um dia para se falar da desobediência de Adão e Eva e da incapacidade das pessoas de não reconhecerem seus erros — o calcanhar de Aquiles na vida conjugal, explicavam os pregadores.

“O problema da desculpa é que quando você não reconhece o seu erro, você não muda”, orientava a pastora Cristiane Cardoso, que é casada com Renato e que conduz com ele o encontro. “Quem sofre mais com a desculpa é quem está dando a desculpa”, avisava.

Um amor renovado

Foi quando reconheceu seus próprios erros que Jane acredita ter achado o milagre pro casamento. Ela chegou à Terapia do Amor para resgatar de alguma forma o relacionamento com Edvan, pois o marido havia saído de casa depois de tanta briga entre eles. O problema era “falta de diálogo”, explicou a mulher. “Eu não tinha paciência com ele. Ligava o tempo todo, cobrando presença, mas quando ele chegava em casa, eu o recebia muito mal. Meu casamento estava destruído.”

Naquela noite, conhecemos uma história de reviravolta. Foram dois anos afastados, e Edvan só voltava para casa uma vez por semana, em visita aos três filhos do casal. “Fui pro mundo”, lembrava ele, se referindo aos tempos de “vícios” da separação. Desapaixonado, “não conseguia nem olhar pra ela — até o cheiro não era mais agradável; era um peso enorme”.

A história contada no altar era um testemunho, uma prova de como a fé aliada a uma técnica de coaching são possíveis de “curar” crise amorosa.

Jane recebeu um convite para conhecer as palestras do Templo de Salomão, e foi. Disse ter entendido ali que o problema do casamento era ter colocado o marido acima de Deus. Quando entrou na igreja, pensava que “a mudança tem que acontecer nele”, mas logo soube que ela “precisava mudar, precisava de ajuda, não estava sendo uma esposa ideal”. Então “comecei a mudar”.

O pastor interveio, acrescentando: “Você tinha que mudar, e ele também. Mas você vindo [à terapia], enxergou o seu problema“.

Jane, curada, convenceu também Edvan a ir ao Templo. “Numa palestra, uma palavra entrou na minha cabeça: ‘sim, sim; não, não’. E aquilo transformou minha vida, meu casamento, meus filhos. Tomei uma decisão naquele momento”, encerrou o marido. Reatado, o casal nunca mais voltou a falar da briga, porque, contam eles, estava superada.

Perto das 22h, o pastor Renato voltaria a falar mais uma vez sobre culpa para os fiéis, antes de se despedir do encontro com outra oração. Como Jane e Edvan, era necessário abrir mão de desculpas e fazer sacrifícios, dizia o pregador. “Quando ela [a pessoa] sacrificar seu eu, suas desculpas, eu tenho certeza, meu pai, que ela vai receber tudo aquilo que tem desejado por tanto tempo e não tem conseguido”, frisava.

Saíram todos incumbidos de pensar sobre aquilo pelos próximos 7 dias — até a nova terapia.

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