Nos últimos anos, a educação domiciliar cresce principalmente nos centros urbanos; Brasil já conta com mais de mil famílias

Eloísa é psicopedagoga e mestre em neurolinguística pela UFRJ
Arquivo Pessoal/Divulgação

Eloísa é psicopedagoga e mestre em neurolinguística pela UFRJ

O que é, de fato, o homeschooling ? Segundo quem defende a prática, é um método de ensino que tem como proposta oferecer um ambiente de aprendizagem diferente do encontrado nas escolas. Os modelos variam bastante: há, por exemplo, famílias que contratam tutores ou pais que se unem com outros para dividir o ensino de determinadas matérias. Algumas crianças recebem acompanhamento de escolas específicas, responsáveis pela correção do material dos alunos, que não frequentam as aulas. A escola, neste caso, serve como um suporte para oferecer o material preparado para as aulas.

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Nos últimos anos, a educação domiciliar ou homeschooling (como é conhecido nos EUA) vem crescendo, principalmente nos grandes centros urbanos. Segundo o Departamento de Educação Americano, no último ano letivo, 1,77 milhão de alunos de cinco a 17 anos, ou 3,4% da população em idade escolar nos Estados Unidos, foram educados em casa.

No Brasil, a prática também vem ganhando adeptos. Segundo a Associação Nacional de Educação Domiciliar , há mil famílias associadas ao grupo. Portanto, diante de tal crescimento, faz-se necessária uma análise de prós e contras deste tipo de metodologia de ensino.

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Vantagens

Segundo os pais que optam por esta modalidade, alguns benefícios são a vantagem de poder acompanhar de perto o desenvolvimento escolar dos filhos e terem a oportunidade de ficar mais atentos a possíveis problemas de aprendizagem. Para muitos deles, a escola regular, principalmente com salas de aula muito cheias, já não oferece o benefício do acompanhamento individual.

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Outro ponto a favor é evitar que as crianças sofram com o bullying. Muitos pais relatam situações que geraram traumas nas crianças e que fazem da escola um lugar para o qual elas não gostariam de retornar.

A flexibilidade de horário também é apontada como um benefício. Com o trânsito cada vez mais caótico, o homeschooling é a alternativa encontrada para evitar o desgaste precoce das crianças e, assim, assegurar a produtividade, poupando horas de deslocamento.

Além disso, as famílias acreditam que, por meio do homeschooling , as crianças não se sentem pressionadas a provar suas habilidades para outras crianças. O último ponto sobre as vantagens da metodologia é a possibilidade, segundo as famílias, de ampliar o ensino para além dos livros, através de viagens ou passeios agradáveis, sem a necessidade de cumprir planos de aula ou cronogramas.

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Segundo a Associação Nacional de Educação Domiciliar, há mil famílias adeptas ao homeschooling
Thinkstock/Getty Images

Segundo a Associação Nacional de Educação Domiciliar, há mil famílias adeptas ao homeschooling

Desvantagens

Porém, apesar dos pontos levantados, como educadora, ainda acredito na escola como ferramenta de ensino primordial para as crianças. Considerando todas as questões que levam à opção pelo ensino domiciliar, é necessário avaliar que esta prática tem pontos negativos.

O primeiro deles é que a didática de ensino é dever da escola e acontece passo a passo, com uma rotina programada, cujo ensino domiciliar não é capaz de acompanhar, por mais bem estruturado que seja. Qualquer pai pode ter o suposto preparo para ensinar o conteúdo ao filho, pois se parte do principio de que um adulto já frequentou a escola e sabe mais do que a criança. Mas não é desta forma que acontece o ensino e a aprendizagem.

Um segundo ponto a ser levado em conta é a relação emocional entre pais e filhos. A pressão de um adulto, sobretudo de pai ou de mãe, é imensa e isso é muito prejudicial ao controle emocional de uma criança ou de um jovem. O estresse advém desse tipo de “jogo de forças” com um lado totalmente em desvantagem, no caso, o do filho.

Um terceiro ponto é que uma criança educada através do homeschooling, não tem as mesmas chances no mercado de trabalho como aquelas que aprendem em escolas regulares. Muito dificilmente esse indivíduo terá as mesmas condições em termos de desenvolvimento mental e de raciocínio e, também, emocional dos que aprenderam de modo interativo e dinâmico.

Um quarto ponto a ser avaliado é que o homeschooling não acelera, de modo algum, o processo de aprendizagem devido ao ensino individualizado. Aprender conteúdos de forma mais rápida por conta de um ensino intensivo, não significa que a criança seja capaz de expressar suas ideias, interagir com as pessoas e apresentar experiências. Por fim, se a criança não se adapta à determinada instituição de ensino os pais devem buscar soluções para resolver o impasse junto à escola e não simplesmente optar pelo homeschooling.

Por fim, considero de extrema importância classificar o aprendizado como uma ação que tem consequências. Todo o conteúdo teria que ser útil em algum momento da vida. Se não nos lembrarmos do que aprendemos com propriedade e não pudermos lançar mão deste conhecimento para resolvermos um problema, é porque não foi apreendido com propriedade e nem ensinado da forma adequada.

Por Eloísa Lima
Psicopedagoga e mestre em neurolinguística pela UFRJ