SES-TO reforça orientações para a prevenção do câncer de pênis
A doença é uma questão de saúde pública e pode ser evitada com a vacinação e autocuidado
Governo do Tocantins
Devido à preocupação com a incidência de casos de Câncer de Pênis no país e o crescente número de amputações e até mesmo óbitos, a Secretaria de Estado da Saúde (SES-TO) reforça a divulgação da nota técnica nº 5/2024, do Ministério da Saúde (MS), sobre as orientações para a prevenção e o cuidado integral focado no câncer de pênis no Brasil.
Segundo o representante da Área Técnica de Saúde do Homem/SES-TO, Tárley Abdalla “a região norte do país, onde se encontra o nosso Estado do Tocantins, aparece, juntamente com as regiões nordeste e centro-oeste como as mais preocupantes em relação ao número de casos e amputações”, afirmou, acrescentando que “a doença é resultado de uma combinação de má higiene íntima, infecção pelo HPV, que é o Vírus do Papiloma Humano e presença de fimoses na idade adulta”.
Quando à prevenção, o técnico destaca que “a prevenção passa pelo autocuidado, vacinações para HPV, com a imunização de crianças e adolescentes de 9 a 14 anos de idade gratuitamente no Sistema Único de Saúde, uso de preservativos e cultura de sexo seguro, serviços disponíveis em todas as unidades básicas de saúde dos municípios”.
Os principais sintomas da doença são: a presença ou aparecimento de qualquer lesão ou alteração local, dor, sangramento ou edema na região genital masculina, compreendendo não só o pênis, mas também os testículos, virilha e região inguinal, e, se necessário, ser referenciado para assistência em nível especializado de diagnóstico e cirúrgico.
Em anexo, a nota técnica na íntegra.
29/02/2024, 10:52 SEI/MS – 0039091985 – Nota Técnica
Ministério da Saúde
Secretaria de Atenção Primária à Saúde
Departamento de Gestão do Cuidado Integral
Coordenação-Geral de Articulação do Cuidado Integral
Coordenação de Atenção à Saúde do Homem
NOTA TÉCNICA Nº 5/2024-COSAH/CGACI/DGCI/SAPS/MS
- ASSUNTO
1.1. Orientações para a prevenção e o cuidado integral focado no câncer de pênis no Brasil 2. ANÁLISE
2.1. O câncer de pênis é uma doença agressiva e mutiladora que, além de ocasionar grande sofrimento físico pode ser fatal em suas fases mais avançadas. Tem maior incidência em homens a partir dos 50 anos, com pico na sexta década da vida e é um tipo de câncer cujo tratamento impacta na qualidade de vida de várias maneiras, pois afeta a autoestima, com repercussões psicológicas e funcionais, tornando difícil a reabilitação e a reinserção social das pessoas afetadas, mesmo quando curadas 1.
2.2. Manifesta-se por lesões e alterações de textura e coloração da pele, em forma de ferida ou úlcera persistente, espessamento ou tumoração situada na glande (cabeça do pênis), no prepúcio (pele que envolve a glande), no corpo do pênis ou nos gânglios inguinais. Em geral, inclui sintomas como sangramento, prurido e mau cheiro da genitália 2.
2.3. No Brasil a taxa de incidência do câncer de pênis é de 1,3/100.000 habitantes3. Dados relacionados à mortalidade obtidos por meio do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) demonstram que, entre 2010 e 2021, o risco de morte por câncer de pênis entre os homens no Brasil se manteve estável (em torno de 0,37 óbitos por 100 mil habitantes). As regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste são aquelas com maior risco de morte por câncer de pênis no país (média de 0,51 óbitos por 100 mil habitantes em 2021) enquanto o Sudeste e o Sul apresentaram menores taxas de mortalidade padronizadas pela idade em 2021 (0,28 e 0,27 por 100 mil habitantes, respectivamente)4.
2.4. Existem diversas etiologias descritas para o desenvolvimento do câncer de pênis, porém muitos aspectos da fisiopatologia desta doença ainda são pouco elucidados. Evidências apontam para uma forte associação entre a presença do prepúcio e o desenvolvimento da doença, assim como outros fatores associados, como idade superior a 60 anos. Além disso, podem ser destacados: má higiene pessoal; tabagismo; histórico de infecções sexualmente transmissíveis (IST), em especial pelo papilomavírus humano (HPV); baixo nível socioeconômico e acesso insuficiente aos serviços de saúde 5,6.
2.5. A fimose, é a condição na qual o prepúcio não consegue ser retraído totalmente sobre a glande peniana, pode se apresentar de duas formas, claramente distinguível por meio do exame físico: fimose fisiológica, é quando o orifício prepucial é flexível e não cicatricial e a fimose verdadeira ou patológica, quando há o estreitamento do prepúcio devido à formação de um anel circunferencial fibroso contraído que, não só dificulta a higiene, impedindo que a glande seja adequadamente exposta, como pode ocultar um tumor, atrasando o diagnóstico. A fimose fisiológica é comum em meninos até 3 anos de idade, eventualmente perdurando em maiores idades e, até os 5 anos, pode ter uma conduta conservadora, se não houver dificuldade para urinar ou infecções locais ou urinárias de repetição. Nesse caso e em caso de fimose patológica a cirurgia de postectomia (circuncisão) pode ser necessária 7.
2.6. Um estudo em um hospital de referência para câncer no estado de São Paulo reportou que a frequência de tumores de pênis que testaram positivo para DNA-HPV foi de 29.6% dos casos, principalmente
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do tipo HPV-16, embora o papel exato da infecção na gênese dessa neoplasia ainda não tenha sido totalmente esclarecido8.
2.7. Apesar da vacina contra o HPV ser oferecida para crianças e adolescentes de 9 a 14 anos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), dados do Ministério da Saúde indicam que a cobertura vacinal contra HPV entre meninos, que já era baixa, ainda decaiu de 61,55% em 2019 para 52,16% em 20227. É possível que essa baixa cobertura entre os meninos dificulte a redução da incidência de câncer de pênis ao longo das próximas décadas no país9.
2.8. O diagnóstico de câncer de pênis envolve uma combinação de anamnese, exame físico e exames complementares. Na Atenção Primária à Saúde (APS), é muito importante determinar o tempo de evolução da lesão e os sintomas que a acompanham, lembrando sempre que, inicialmente, as lesões produzem pouco ou nenhum sintoma. O exame físico será realizado por um profissional da saúde que vai buscar qualquer anormalidade no pênis, como feridas, úlceras ou massas. A avaliação também inclui a palpação dos gânglios linfáticos da região inguinal (virilha) e raiz das coxas, que vai buscar anormalidades como aumento de volume, endurecimentos, e até ulcerações da pele sobre os gânglios, com ou sem sinais infecciosos, pois o câncer de pênis pode se espalhar para esses gânglios. Se identificadas alterações suspeitas, o encaminhamento para a Atenção Especializada à saúde será realizado e exames complementares poderão ser solicitados10. Independentemente do diagnóstico e tratamento serem realizados na Atenção Especializada, a garantia do acompanhamento longitudinal na APS é extremamente necessária.
2.9. O diagnóstico confirmatório e o diferencial para outras afecções que acometem o pênis deve ser feito por meio de biópsias, que determinarão se há células cancerosas e, se presentes, permitirão identificar o tipo específico de câncer ou de outras lesões que podem ser precursoras ou se assemelhar com o câncer, como por exemplo a eritroplasia de Queirat, condiloma acuminado, condiloma de Buschke
Löwenstein, balanite xerotrófica obliterante e o líquen plano11.
2.10. O tratamento depende do tipo, da extensão do tumor e do comprometimento dos gânglios linfáticos ou de outros órgãos. Este deverá envolver a remoção da lesão peniana (com aplicações de tratamentos tópicos, cirurgias conservadoras com remoção do epitélio envolvido e boa preservação peniana, nos casos iniciais, até a penectomia – amputação – parcial ou total, nos casos mais avançados) podendo ser associada à linfadenectomia inguinal bilateral (retirada dos gânglios) com intenção curativa ou paliativa, e radioterapia e quimioterapia, que podem ser associados em casos com envolvimento profundo ou disseminação à distância, mesmo que com intenção paliativa12.
2.11. Por se tratar de um acometimento relacionado ao órgão genital, o estigma social impacta em uma baixa procura aos serviços de saúde, também associado ao medo de ser diagnosticado com câncer, comumente associado à morte, a tratamentos dolorosos e a mutilações13.
2.12. Embora se trate de um tema pouco discutido, o câncer de pênis causa sérios problemas em razão do diagnóstico tardio. Grande parte destes se baseiam na cultura machista de que o autocuidado com a saúde do homem configura um papel de passividade, dependência e fragilidade masculina, principalmente quando relacionado ao órgão genital14.
2.13. Neste sentido, torna-se essencial implementar ações de promoção da saúde, prevenção, diagnóstico precoce, tratamento em tempo hábil, que são extremamente necessários no âmbito das políticas públicas em saúde do SUS, especialmente da APS.
- RECOMENDAÇÕES
3.1. Recomenda-se aos profissionais de saúde orientar a população sobre:
3.1.1. Higiene do pênis: orientar independente de idade lavar regularmente com água e sabão neutro, puxando o prepúcio totalmente para trás para a higiene adequada da glande e de todo o órgão. Secar bem a área genital após o banho. A prática de limpeza deve ser realizada diariamente, após as relações sexuais e masturbações e orientada aos meninos desde a infância. No caso de fimose que persista após a infância (fimose patológica) que dificulte a completa exposição da glande, um profissional da saúde deve ser consultado.
3.1.2. Orientar familiares e homens que fazem uso de fraldas, acerca da atenção para a realização adequada da higiene e a troca regular de fraldas, garantindo a remoção de resíduos e evitando o acúmulo de
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umidade, que pode favorecer infecções e predispor o surgimento de lesões cancerígenas.
3.1.3. Autoexame e conscientização: informar a importância do autoexame e ao notar quaisquer alterações no pênis, como feridas, inchaços, ou mudanças na cor e textura da pele, buscar atendimento na sua Unidade Básica de Saúde (UBS);
3.1.4. Práticas sexuais seguras: incentivar o uso de preservativos durante as relações sexuais para prevenir IST.
3.1.5. Vacinação contra o HPV: incentivar a vacinação contra o HPV para a população de 9 a 14 anos com campanhas que sejam amplamente divulgadas e acessíveis, visando reduzir o risco de desenvolver condilomas pelo HPV e cânceres, como o câncer de pênis, ânus, orofaringe e, de forma cruzada, também, o de colo uterino;
3.1.6. Garantia de acesso: garantir os direitos dos adolescentes (10 a 19 anos) da possibilidade do atendimento desacompanhado, como estímulo positivo à autonomia e cidadania. Caso a sugestão não seja acolhida, o adolescente deve ser estimulado a participar ativamente, enquanto protagonista de seu próprio cuidado 15.
3.1.7. Realização da postectomia (circuncisão): incentivar a retirada do prepúcio quando essa pele que encobre a glande não permita a higienização de maneira correta, seja por ser muito longa (prepúcio redundante) ou por estar estreitada (fimose);
3.1.8. Cuidados com a saúde: incentivar a manutenção de uma dieta saudável e equilibrada, estimulando a prática regular de exercícios físicos;
3.1.9. Cessação do tabagismo: desencorajar o hábito de fumar e ofertar acesso às medidas de cessação de tabagismo, pois está associado a várias doenças e um aumento no risco de vários tipos de cânceres, incluindo o câncer de pênis.
3.2. Recomenda-se aos gestores estaduais e municipais de saúde as seguintes medidas:
3.2.1. Organizar a rede de atenção à saúde, com a APS como porta de entrada e lócus de seguimento prioritários, permitindo a investigação célere de queixas na região genital dos homens.
3.2.2. Implementar, em larga escala, estratégias de disseminação de informações para a população sobre a importância de os homens procurarem a unidade de saúde para cuidados, independentemente da idade;
3.2.3. Qualificar os profissionais de saúde da APS sobre o câncer de pênis, em parceria com serviços de saúde e instituições de ensino, aperfeiçoando a atenção dada aos homens e seus familiares;
3.2.4. Fortalecer as ações educativas e de comunicação em saúde direcionadas à população masculina sobre higiene correta dos genitais, uso de preservativos, autocuidado em saúde e prevenção dos cânceres mais prevalentes e outras doenças crônicas não transmissíveis;
3.2.5. Instrumentalizar o trabalho das equipes e orientar a população em geral, por meio de publicações institucionais.
REFERÊNCIAS
- Câncer de Pênis. Rio de Janeiro: INCA, 2023. Disponível em: Câncer de pênis — Instituto Nacional de Câncer – INCA (www.gov.br). Acesso em: 07 fevereiro 2024.
- Favorito LA, Nardi AC, Ronalsa M, Zequi SC, Sampaio FJ, Glina S. Epidemiologic study on penile cancer in Brazil. Int Braz J Urol. 2008 Sep-Oct;34(5):587-91; discussion 591-3.
- Age-Standardized Rate (World) per 100 000, Incidence, Males, in 2022. Disponível em :https://gco.iarc.fr/today/en/dataviz/globe?mode=population&group_populations.
4. Ministério da Saúde. Sistema de Informações de mortalidade (SIM). Brasília. 2021.