‘Ouvimos o barulho dos bombardeios durante toda a noite’, diz chefe da embaixada brasileira na Síria


‘Ouvimos o barulho dos bombardeios durante toda a noite’, diz chefe da embaixada brasileira na Síria
Luis BarruchoDa BBC Brasil em Londres

Há 4 horas

Direito de imagemPENTÁGONOImage captionPotências ocidentais acusam regime sírio de autoria de ataque químico na semana passada

O chefe da embaixada brasileira na Síria, Achilles Zaluar Neto, disse que a capital do país, Damasco, está funcionando “normalmente”, apesar de os bombardeios terem provocado “um susto muito grande” em toda a população.

“Ouvimos o barulho dos bombardeios durante toda a noite”, disse ele em entrevista por telefone à BBC Brasil.

Na noite de sexta-feira (madrugada de sábado na Síria), uma coalizão liderada pelos Estados Unidos lançou um ataque aéreo contra o que afirmam serem locais de produção, armazenamento e distribuição de armas químicas nas cidades de Damasco e Homs. Três alvos foram atingidos.
Guerra mundial à vista? Tática de bombardeio e resposta russa sugerem que não
Os bombardeios dos EUA e aliados contra a Síria foram legais?

Segundo o governo americano, a ofensiva foi uma retaliação ao uso de armas químicas pelo governo do presidente sírio, Bashar al-Assad, contra rebeldes no último sábado em Douma, na região conhecida como Ghouta Oriental, controlada pelos insurgentes.Direito de imagemDIVULGAÇÃOImage captionA embaixada brasileira em Dasmasco voltou a funcionar no ano passado

Questionado sobre quais medidas de precaução tomou, Zaluar Neto afirmou que o corpo diplomático brasileiro se desloca em veículos blindados.

No total, além dele, que é encarregado de negócios, mas desempenha as funções de embaixador, seis funcionários brasileiros trabalham na embaixada. Do total, cinco vivem em Damasco e os outros dois em Beirute, no Líbano, a 2h30 de carro da capital síria.

A maior parte do trabalho é direcionado à assistência da comunidade brasileira na Síria, estimada entre 1 mil e 1,1 mil pessoas.
Retorno à embaixada

Durante o ápice do conflito, em 2015, diplomatas brasileiros que atuavam em Damasco passaram a viver em Beirute, no Líbano, de onde despachavam, por segurança. Desde o ano passado, contudo, voltaram a viver na capital síria.

Atualmente, segundo Zaluar Neto, a situação está “mais calma” e as condições de segurança “melhores”.

“A embaixada brasileira em Damasco nunca foi fechada, mas teve suas atividades reduzidas localmente e deslocadas para o Líbano”, diz.
Batalha por Ghouta Oriental

Por outro lado, diz Zaluar Neto, em fevereiro e março deste ano, durante a batalha entre forças leais a Assad e rebeldes em Ghouta Oriental, no subúrbio de Damasco, os diplomatas brasileiros tiveram que reforçar a segurança.

Na semana passada, um morteiro, supostamente lançado por insurgentes, caiu no prédio em frente à embaixada.

“Por causa da quantidade de morteiros que caíam em Damasco, evitávamos sair à noite e ir à cidade antiga”, conta.Direito de imagemEPAImage captionEUA, França e Reino unido atacam o governo de Assad

Desde 2013, o Brasil mantém uma política de concessão de vistos humanitários a refugiados sírios. Entre 2010 e 2017, foram reconhecidos 2.771, segundo dados do Conare (Comitê Nacional para os Refugiados), órgão ligado ao Ministério da Justiça.

Nenhum brasileiro foi ferido nos ataques.
Posição do Brasil quando aos ataques

O ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, disse que está profundamente preocupado com ” a escalada do conflito militar na Síria”.

“Já é passada a hora de se encontrar soluções duradouras, baseadas no direito internacional. É uma guerra que se estende há tempo demais e com um custo humano elevado também demais”, afirmou o chanceler, que está em Lima para a Cúpula das Américas. “Condenamos naturalmente o uso de armas químicas, que é inaceitável. Essa é uma tese pregada e divulgada no nosso país há muito tempo.”

O ministro disse ainda que o Itamaraty está monitorando a segurança de brasileiros que vivem na região. “É urgente que todos os envolvidos se engajem em abordagem abrangente e concertada capaz de fazer cessar tanto sofrimento”, afirmou.

*colaborou Mariana Schreiber, enviada especial da BBC Brasil à Lima

Comentários
você pode gostar também